
Foi pura coincidência. Estava de visita aos meus blogs favoritos quando ao passar pelo «Renas e Veados» li o seu último post que publicitava uma estreia televisiva para hoje às 22.30. Olhei ao relógio e eram 22.45. Precipitei-me sobre o comando da televisão e liguei na 2. Lá estava: era aquilo que eu queria ver. Já ía avançado o primeiro episódio de «Linha de Beleza».
Para quem não viu nem leu nada sobre é a história de Nick Guest um jovem homossexual ambicioso, vindo de origens modestas; vive em casa de um amigo de faculdade, que por sua vez é filho de um influente deputado. A série em três episódios é baseada no romance do mesmo nome do escritor Alan Hollinghurs e decorre nos anos 80 durante a governação de Margareth Teacher em pleno apogeu yuppie, lembram-se? Pois é, uma das coisas que me deliciou na série foram as referências históricas e políticas a uma época que está bem viva na minha memória. A guerra das Malvinas, o teacharismo, a cultura yuppie ainda estão frescas para quem acompanhava a política nos anos 80. Por cá fazia história o cavaquismo. A política era mais interessante nessa época: uma mulher fazia história e impunha a sua vontade numa Europa a 12, as bolsas faziam milionários em pouco tempo. O capital gerava capital e os ricos surgiam como cogumelos em Walll Street, na City londrina, mas também em Lisboa. Os yuppies reinavam. A América planeava a estratégia da guerra das estrelas, Helmut Kohl mandava numa Alemanha poderosa e rica ainda por reunificar, Gorbachev iniciava a Glasnost e a Perestroika na U.R.S.S. O Solidariedade abria brechas no bloco de leste. Anos emocionantes na política internacional, quando ainda muito poucos antecipavam a queda do muro de Berlim e o fim do bloco comunista e ninguém falava em globalização. Enfim, foi quando muitos de nós ainda eramos crianças, mas quase parece ficção imaginar que existiu um mundo assim apenas há 20 anos.
Desconheço o romance, mas dá para perceber o cuidado e ao mesmo tempo o atrevimento da BBC ao passar para imagens as palavras de Alan Hollinghurs. Os tempos modernos permitem uma outra abertura no tratamento da homossexualidade do personagem principal. O conservadorismo britânico não permitiria tanta ousadia há uma década atrás, mas ainda bem porque ganham os telespectadores em realismo no tratamento de um assunto que sempre foi abordado com tantos paninhos quentes de tal forma que ninguém ficava elucidado sobre o que é o relacionamento afectivo e sexual entre dois homens, perpétuando estereótipos que em nada favorecem os gays.
Não vou perder o próximo episódio e vocês também não deviam.