
Há algumas pessoas que se tem cruzado por mim nos últimos anos que me fazem acreditar que a juventude afinal não está perdida. Contrariamente ao que os mais velhos gostam de proclamar quando olham para os jovens vestidos com T-shirts de dizeres atrevidos, calças esfarrapadas em lugares indecentes, tatuados com motivos pouco ortodoxos e furados por piercings nos locais mais insuspeitos do corpo e proferindo, sem pudor, todo o tipo de calão e expressões capazes de magoar os tímpanos ao menos católico dos seres humanos, há uma geração que gosta de provocar e chocar sem cair na indecência moral que parece prenunciar a segunda vinda de Jesus Cristo ao mundo.
Somos quase diariamente confrontados com a frase beata que anuncia que estamos próximos do fim do mundo. O ser humano tem tendência a ver à sua volta o que pensa ser o mais profundo do que há em termos de degradação moral e afastamento dos princípios religiosos. A ignorância leva-nos a esquecer o passado quando os preceitos religiosos e morais que são o padrão de conduta actual nem existiam ou eram totalmente ignorados. E, pior, pensamos que a nossa crença religiosa e conceitos morais são o cartão magnético que abre a porta do Céu. Afinal os nossos horizontes não se estendem para além do adro da igreja e da esmola que damos ao cego, que sentado na soleira da porta do templo apela à nossa moral católica e nos faz ganhar o paraíso cada vez que tiramos 50 cêntimos do porta-moedas e lhe damos.
Mas voltemos à geração rasca. Vicente Jorge Silva baptizou-a no Público e o conceito fez o seu percurso sendo hoje, quase um sinónimo de juventude. Aquela juventude que parece não querer ter futuro, nem se importar com ele. Jovens que representam uma maneira de estar contestatária da sociedade actual, mas que não têm uma alternativa, antes parecem ter desistido dos outros e entregues às drogas sintéticas, ao álcool, ao sexo, não constroem nada, apenas contestam o que consideram ser uma sociedade ultrapassada sem futuro e que não tem nada para lhes transmitir, pois os seus alicerces são frágeis e baseados em falsos valores. Esta é uma geração de ruptura? Que o seja, mas a que lhe devia já ter sucedido ainda não nasceu!?
Não creio na geração rasca nem na geração messiânica. Felizmente tenho encontrado gente nova que não encarna os pressupostos da geração rasca nem personifica a renovação social que se espera. São jovens, moral e eticamente bem formados sem serem betinhos nem beatos. São gente que contestando o presente não são hooligans sociais derrotados. São homens e mulheres que não se regem pelos valores hipócritas da época vitoriana, mas não entraram numa espiral de decadência suportada pelo ideal de sexo, drogas e rock´n roll até ao juízo final. Há uma grande fatia da geração rasca que constrói uma vida baseada na tolerância da diferença, no espírito empreendedor, nos laços de família seja ela de que tipo fôr e na competitividade com fundamentos éticos do respeito, da amizade e da solidariedade humana. Não são a maioria, mas eles andam por aí e eu tenho encontrado exemplos entre vizinhos, amigos, conhecidos, colegas de trabalho. Graças a Deus ou a eles mesmos que andam por aí...