
Sou mais um dos portugueses que regularmente pensa para si ou diz em voz alta mal do seu país. «Que merda de país!», «Parece o terceiro mundo!», «Como é que querem que isto vá para a frente?» são expressões que os portugueses deixam cair quase diariamente quando confrontados com situações que pensam não deverem ocorrer em países do primeiro mundo. E os portugueses desejam mais que ninguém pertencer a um país do primeiro mundo.
O problema dos portugueses está muitas vezes na contribuição que dão para tornar Portugal um desses países. É um mal bem português considerar que o problema está sempre nos outros. Nós não, nós não podemos fazer grande coisa para mudar a realidade. Quem sou eu? uma simples formiguinha que nada pode fazer perante a grandiosidade do formigueiro. Começamos por empurrar a responsabilidade para os outros, e os outros são em primeiro lugar o Primeiro Ministro, depois o governo, de seguida os funcionários públicos superiores, de base, os patrões, os chefes, os colegas, os vizinhos, os primos e só no fim: EU!
Criticamos a falta de civismo dos outros: deitam papeis para o chão, deitam o lixo fora do contentor, não respeitam a fila, passam os semáforos vermelhos, não param nos Stops, incomodam os vizinhos à noite com a música alta, etç, etç. Nós nunca nos comportamos assim!
Durante anos convivi com alguém que com o maior das facilidades abria a janela do carro e deitava pela janela todo o lixo que tivesse nas mãos, da mesma forma que o Sousa Cintra fazia com as garrafas de água enquanto dava entrevistas pela a rádio, via telemóvel. Sempre que estava presente reprovava a atitude repreendendo com um comentário do género: se te ouço dizer que este país é uma miséria atiro-te pela janela a ti também! Passados vários anos a consciência cívica veio ao de cima e agora já não o faz, mas conheço muito boa gente que continua a contribuir para que as nossas ruas e estradas estejam cheis de lixo.
Portugal é um país rico culturalmente: tem muitos anos de História, tradições ancestrais, uma lingua que é das mais faladas do mundo, monumentos magníficos, escritores fantásticos, músicos fabulosos, pintores vanguardistas, mas são as tradições estrangeiras, os livros traduzidos, a música importada, os filmes americanos que consumimos como se fossem nossos!
Portugal é um país desenvolvido, mas não tanto como desejávamos. Não temos recursos naturais abundantes, não temos recursos energéticos baratos e ainda estamos longe de ter uma mão-de-obra qualificada que nos permita inovar e vender produtos tecnologicamente avançados em concorrência com o Japão, a Finlândia ou ou os U.S.A. e outros mais. Pior do que isso temos um povo que desvaloriza aquilo que produz. Prefere tudo o que vem de fora, basta que seja de marca!
Não percebemos que ao deixar os produtos made in Portugal nas prateleiras dos supermercados e das lojas estamos a empobrecer o país. Indirectamente estamos a condenar os nossos compatriotas, os nossos vizinhos, amigos e os próprios filhos ao desemprego. Comprar produtos e serviços importados é enviar dinheiro para fora do país, é enriquecer os outros e condenar-nos ao subdesenvolvimento.
Quando gasto dinheiro prefiro vê-lo sair para os cofres das empresas nacionais. Opto por comprar por ordem de preferência produtos de marcas nacionais fabricados em Portugal; depois produtos de marca estrangeira produzidos em Portugal; só posteriormente de marcas portuguesas produzidos no estrangeiro e finalmente de marcas estrangeiras feitos lá fora. Desta forma contribuo para que o valor acrescentado dos produtos comprados fique em território nacional sempre que possível. Entre comprar Salsa e Lacoste, compro Salsa. Entre a Quebramar e Tifosi prefiro a primeira. Escolho a Compal à Parmalat, a Mimosa à Danone, A TAP à Air France, a Optimos à Vodafone, etç, etç. Só não prefiro a Auto jardim à Europcar por razões óbvias.
Desta forma sinto que contribuo para enriquecer o país, aumentando o seu P.I.B., mantendo postos de trabalho, enfim contribuindo para que cada vez mais o nosso país pertença ao grupo dos países desenvolvidos.