quarta-feira, junho 25, 2008

terça-feira, junho 24, 2008

CHEGOU O DIA...

Chegou o dia. Nalguma data teria de acontecer. «Não há bem que sempre dure nem mal que não se acabe». O «DE CORPO E ALMA» vai ficar por aqui ou tão somente fazer uma pausa, não sei ainda.
Este espaço cumpriu a sua função. Foi um teste. Procurei saber até onde seria capaz de prosseguir um projecto que exigia de mim persistência, regularidade, entrega e generosidade. Seria eu capaz, de numa base quase diária, entregar-me a algo que exigia: tempo e imaginação, sem receber nada em troca a não ser as visitas regulares de quem reconhecia nele interesse suficiente para o continuar a visitá-lo? O teste terminou com nota positiva. É uma auto-avaliação, mas essa me basta, neste caso. Durante quase três anos compartilhei com os meus leitores ou tão só visitantes uma estética gay que resistiu quanto pode aos estereótipos dos «blogues gays», que desenvolveu ideias sobre a problemática homossexual, mas não se resignou a isso e procurou ir mais além. Os meus interesses pessoais vão muito além do sexo gay. Falei sobretudo daquilo que me interessa como pessoa. Divulguei Portugal e o Algarve; falei de literatura, de arte, de política, de intolerância e de problemas sociais, de economia e de religião e de ética, de ambiente, de direitos humanos e de amor. Falei de mim, de trabalho, de civismo, dos que me são próximos. Dei recados e elogiei e mostrei como gosto daqueles que me rodeiam. Compartilhei experiências, ideias e pensamentos. Tentei, juro que tentei, dar o meu contributo para um mundo mais tolerante, mais sensato e mais generoso. Neste blogue testei a minha capacidade de escrever, de comunicar ideias e procurei difundir um ideal de estética gay através da palavra, da fotografia e do vídeo.
Hoje sinto que o «DE CORPO E ALMA» cumpriu a sua missão. Chegou a hora de parar; não sei se definitivamente se apenas durante o tempo suficiente para amadurecer melhor o que pretendo deste espaço. É possível que regresse lá para o final do Verão com novo entusiasmo. O mais provável é que crie um novo espaço com uma filosofia, uma estética e objectivos diferentes. Quando tal acontecer será daqui, deste ponto de chegada, donde voltarei a partir.
Para aqueles que me honraram com a regularidade das suas visitas e comentários o meu sincero obrigado. Foram vocês que me obrigaram a continuar dia a pós dia. Os textos e as fotos postados vão continuar por aqui como testemunho do prazer que me deu realizar este trabalho ao longo dos últimos três anos.
De momento despeço-me com um até mais tarde. Vamos ver por quanto tempo conseguirei ficar quieto. Neste momento é imperioso parar. É tempo de pensar e me redescobrir. Chegou a hora de iniciar a escavação de uma saída para a água que está estagnada no meu lago interior e depois arregimentar forças para levantar a comporta e deixar entrar uma corrente de água fresca que possa renovar as rotinas que fazem parte da vida quando se chega aos 40.
Fiquem bem. Até breve.

sábado, junho 21, 2008

quinta-feira, junho 19, 2008

terça-feira, junho 17, 2008

domingo, junho 15, 2008

SEU NOME É PESSOA: FERNANDO PESSOA




Não foi com Pessoa que que ganhei gosto pelos livros, mas foi com ele que aprendi a gostar de poesia. Autopsicografia foi um o poema que junto com «O menino da sua mãe li vezes sem tempo até me garantir o prazer de os dizer como se fossem meus: ditos de coração. Ouvir-me dizer alguns poemas de Pessoa dava-me um gozo semelhante ao de comer uma pequena tablete de chocolate Regina, das que o meu avô me trazia da taberna, ao anoitecer, quando eu era criança. Os poemas de Pessoa escorregam pela mente como o creme de um gelado da Gelvi, servido na esplanada da gelataria, numa noite de verão em que a aragem vinda da ria nos fazia sentir mais felizes do que realmente éramos. Ainda quase adolescente esta sensação de que os poemas de Pessoa me alimentavam a alma levaram-me a escrever sonetos (apenas um deixei publicar e todos os outros destrui quando o romantismo da adolescência deu lugar ao realismo da condição adulta).
Ainda hoje quando a vontade de nada fazer me assalta pego em Alberto Caeiro e percorro com ele os campos pastoreando as ovelhas do seu rebanho e amando a natureza e faço-me, como ele, apenas sentidos e não penso em coisa nenhuma ou então leio em voz alta a Ode Triunfal daquele «ganda maluco», o tavirense Álvaro de Campos, e pareço um louco exaltado e eufórico e ganho ânimo e vontade de fazer coisas, de ser moderno, de ser apenas um um robô sem sentimentos, mas vivo e capaz de coisas maravilhosamente modernas.
É no entanto o Pessoa, ele mesmo, que me estilhaça a alma, me perturba os sentidos, me desconstroi os pensamentos, me empresta uma vontade de não ter crescido, de ser outro sendo eu mesmo. Enquanto os outros são, regra geral, apenas um, o Poeta da Tabacaria é muitos em um e todos topo de gama. Só o facto de ter a mesma pátria de Fernando Pessoa compensa, em parte, ter a mesma nacionalidade que um tão grande número de pessoas que nunca leu a Mensagem.

PS: A Câmara municipal de Olhão inaugura amanhã, dia em que a cidade comemora os 200 anos da sua elevação a vila, a Biblioteca Municipal que espero que tenha nome de baptismo. Integrada na rede nacional de bibliotecas é um equipamento que há muito fazia falta à cidade. O espaço escolhido para instalar a nova biblioteca foi o do antigo hospital da cidade «Nossa Senhora da Conceição» que, imaginem, foi o local onde me orgulho de ter nascido. Melhor destino não lhe poderia ser dado.
Agora posso imaginar que no preciso local onde vim ao mundo está uma prateleira cheia de grandes obras da literatura universal ou apenas uma mesa onde as crianças da minha cidade podem ouvir contar estórias de príncipes e fadas e duendes e bruxas más e animais que falam. Magnífico!

FELIZ ANIVERSÁRIO FERNANDO

Aniversário

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


15/10/1929

O VENENO QUE ALIMENTA O MUNDO


quinta-feira, junho 12, 2008





CENSURA (IN)DESEJADA


Já não era sem tempo, caramba! Há anos que tinha pedido ao blogger que censurasse o DE CORPO E ALMA para poder postar aqui todo o tipo de mensagens de incitação à pedofilia, à violência, ao racismo, à pornografia e outras artes relacionadas acabadas em «ia».
Agora já posso ensinar a construir bombas, cocktails molotov, a planear atentados terroristas e incitar os jovens ao suicídio, a matar o pai e a mãe e ao crime organizado ou tão só a afogar o gato num balde de água fria. Posso começar a promover o consumo de produtos alucinogénos, psicotrópicos, estimulantes, paralisantes, encefalo-decepantes e estupidificantes em caixinhas ou em doses individuais à vontade do freguês.

Finalmente isto vai ser um blogue com algum interesse para quem está farto de fotografias que provam como Deus é generoso com os gays e com as mulheres. Finalmente vou poder escrever textos capazes de chocar o jovem Tomohiro Kato.

Agora já posso fazer tudo isso porque o blogger avisa os menores de 18 anos e as pessoas sensíveis que aqui não se aprende nada. Ainda bem, porque estava farto de visitas indesejadas e mal educadas que andavam por aí a vasculhar tudo com os olhos esbugalhados, escandalizados e vidrados como se fossem internas do Júlio de Matos e quando se dava por elas batiam estupidamente com a porta e nem se despediam.
Vão-se confessar-se ao senhor padre antes que a morte os apanhe de surpresa e o pecado de por aqui terem passado os condene a serem enrabados pelo capeta por toda a eternidade. Stop, stop, stop! Retiram esta última frase que eu não guardo ressentimento nem sou vingativo: cada um tem de ser livre de se chocar com o que lhe aprouver.

terça-feira, junho 10, 2008

O DIA DA RAÇA QUE NOS PARIU

Finalmente o meu primeiro dia de praia de 2008! Um dia estupendo passado na praia da Manta Rota com uma luz que permitia vislumbrar quem andava a apanhar conchinhas na praia Verde ou em Montegordo. Os quilómetros de praia da baía eram nítidos desde Tavira até Isla Antilha, do lado de lá do Guadiana. Apesar de todos os cuidados o sol deixou marca. Agora sim começou o Verão.

Cheguei à praia sem que a frase do nosso Presidente da Republica dizendo que o importante era o dia da raça me desimpedisse os neurónios para pensar em coisas mais fúteis e agradáveis. Estava convicto que de raça lusitana ou portuguesa, como queiram, eram os cavalos: aqueles que dançam frente aos cornos dos touros na arena (arte que eu por acaso nem aprecio). Pensei noutras raças e veio-me à ideia o cão-de-água algarvio, mas esse é só algarvio, o rafeiro alentejano, mas esse é só alentejano, o Serra da estrela, mas esse é só da serra e são todos cães. Português da Lusitânia só a raça de equinos que todos conhecemos. Agora o senhor presidente vem dizer que o importante é celebrar a 10 de Junho o dia da raça? Será que afinal somos da mesma raça dos cavalos!? Estou perplexo!


Não sei se lhe leve a mal, mas penso que não vale a pena. O homem não quis dizer que somos todos umas cavalgaduras: confundiu-se. Quem, em tempos, proclamava à força que éramos uma raça foi o célebre antropólogo Oliveira Salazar que só por acaso Cavaco Silva, de vez em quando, vai buscar aos baú das suas memórias e nos espanta, como se espantam as bestas de carga, com a facilidade que tem em ir buscar reminiscências dos tempos em que era adolescente. Será que tem saudades do tempo em que fazia a viagem de comboio desde Boliqueime para frequentar o Liceu Nacional João de Deus, em Faro, que por acaso eu também frequentei ou tem saudades de quem o governava na altura? Não creio. Não duvido que somos presididos por um verdadeiro democrata que de vez em quando comete umas gaffes estilo George W.Bush filho. Nada de grave portanto.

CONFIDÊNCIA

Sei que é razão para ser excomungado da irmandade gay, mas não resisto a confidenciar que tenho uma entrada para ir ver a Madona a 14 de Setembro em Lisboa, mas trocava-a por um bilhete para assistir à final do Campeonato da Europa de Futebol (Euro 2008) desde que no campo estivessem: Ronaldo, Deco, Simão, Moutinho, Quaresma e todos os outros «viriatos».




segunda-feira, junho 09, 2008

UM FAZEDOR DE MILAGRES NO ALGARVE


Chegou hoje ao Algarve, em gozo de férias, um dos muitos bilionários russos que o «putinismo» gerou na última década. Segundo sei, vem acompanhado do ministro da defesa do seu país e de uma celebridade dos meios de comunicação do país dos Abramoviches. Já cá esteve o ano passado e parece que lhe caiu no goto o sol algarvio. Também parece que é um novo-rico que gosta que aconteçam milagres de cada vez que estala os dedos. Com esse simples gesto ou tão só com um olhar os deuses põem meio mundo a trabalhar para lhe satisfazer os caprichos.


Hoje deve ter olhado pela janela do seu palácio e pensou: e se eu fosse para o Algarve com o ministro da defesa e aquela beldade que tento me agrada e já agora levava o meu filho para ir brincar com os golfinhos do Zoomarine? Bem dito, bem feito: jogou mão do seu portátil, topo de gama, e ligou para o hotel a reservar todas as mordomias possíveis e imaginárias: as melhores suites, dois MB S600 para irem buscá-los à chegada do seu avião particular que estava prestes a descolar de um aeroporto de Moscovo. Um simples telefonema foi tudo quanto bastou para colocar um dos melhores hotéis do Algarve em alvoroço. Pareciam baratas tontas a tentar fazer milagres. É que estamos em Junho. O hotel, felizmente, não está, propriamente, às moscas e as lomousines não caiem de maduras das amendoeiras algarvias no mês de Maio!


Para acolher os imprevisíveis turistas russos o hotel conta nos seus quadros com uma simpática lituana que hoje deve ter amaldiçoado o Putin mais de mil vezes. Quando recebi o seu telefonema percebi que acabava de pendurar as alças do soutien sobre os ombros e preparava-se para subir, pelas suas bem torneadas pernas, a saia da farda que tão bem condiz com a seu sotaque báltico sempre a deixar escapar um sorriso entre os dentes brancos à esquadria.« - Desculpa, mas preciso muito da sua ajuda. Sr: Lembra-se daquele...?» Como não havia de lembrar daquele que foi o melhor cliente de todo o ano de 2007! O homem guardou na garagem, durante um mês, um Mercedes S320 cujo aluguer deve ter sido suficiente para pagar os nossos salários durante 6 meses, pelo menos. E agora queria dois topo de gama para o transportar a ele e à sua comitiva, com ministro e tudo, de Faro para o hotel. Lamento, mas não há! Não temos nenhum disponível no Algarve de momento. Aqui o milagre não aconteceu...

Este é o tipo de cliente que obriga o hotel a estar preparado para todas as jogadas imprevistas que lhe possam ocorrer. Fechar restaurantes e serviços só para ele, adquirir o serviço de automóveis exclusivos, yates e caprichos inesperados, ainda que só possam ser adquiridos a milhares de quilómetros de distância e por aí fora; que quem tem dinheiro não quer saber de misérias: os desejos são sonhos e os seus sonhos realidades ainda que por magia ou intervenção divina. Não importa. Neste caso os rublos são os mágicos e os deuses de serviço ao mesmo tempo.

A esta hora o Czar, desculpem o cidadão russo já deve ter jantado e o hotel deve ter-lhe providenciado uma das melhores suites para que ele possa dormir como qualquer imperador de todas as russias dormiria. Pela manhã vai voltar ao aeroporto e viajar para a Áustria onde a sua selecção vai defrontar a Espanha em Innsbruck a meio da tarde. Não me admirava se as câmaras de televisão o mostrassem sentado entre o dono do Chelsea e o ministro que comanda a guerra na Chechénia.

Embora simpatize mais com os vizinhos espanhóis, penso que o meu interesse pessoal pende para a vitória russa. Uma derrota é capaz de lhe acelerar a imaginação e me obrigar a fazer mais um milagre para lhe disponibilizar a limo que lhe vier à cabeça ou então a frustração não deixe que dê largas à imaginação nas mil e uma formas de gastar muito, muito dinheiro, por cá. Por outro lado é meu desejo que ele fique por cá um mês ou dois para nos garantir os salários até ao final do ano e ajudar o país a recuperar da crise. Dava mesmo jeito era que a final fosse Portugal-Rússia e a taça ficasse para os viriatos. Assim ele ia gastando os rublos, de qualquer forma, e no fim a festa maior era nossa..

O dinheiro é o maior realizador de milagres, à frente de qualquer deus e a anos-luz de qualquer santo! Passes de mágica, esses então faz quantos quiser! Nesse campeonato não à quem lhe ganhe tenha o nome de Dólar, Euro, Libra ou Rublo.

domingo, junho 08, 2008