terça-feira, outubro 30, 2007

ESCOLHA «IN EXTREMIS»

Deixei hoje o meu local de trabalho com a firme intenção de ir assistir, em Faro, a mais uma aula da acção de formação que a Europcar inventou para estes dias de Outono. Juro que foi esse o propósito, mas quando cheguei a meio caminho já a ideia não fazia sentido na minha cabeça. A inconveniente formação tinha caído certeira nos dois dias que mais mossa podiam fazer na minha vida privada. À terça-feira o dia de jantar com o Shwasy e à quinta o de visitar minha mãe. Saí do trabalho sem cabeça para me fechar numa sala a ouvir falar de gestão de empresas. E pensando no que esta formação estava a pôr em causa, rumei a casa. Telefonei ao Shwasy a dizer que afinal ia jantar com ele e animei-me. Precisava mudar de ares, de conversa leve, de rir, de um ombro amigo que ando a precisar, mas não tive (também não era o lugar nem a hora).
Em menos de uma hora entrava em Santa Luzia no «Vincent» onde o meu homem e o filho já liam a carta do restaurante. O Vincent é nome do cozinheiro e dono de um pequeno restaurante muito interessante para quem degusta com agrado as criações da tradição culinária francesa. Gosto. E gosto especialmente do empregado: um jovem belga radicado em Portugal desde os 12 anos, que podia ser familiar da criação mais famosa do seu famoso compatriota Hergé. Um belga quase sem sotaque, descontraído, comunicativo e cativante. «Marchava», o Tintin «marchava» afirmava o Shwasy em ar de gozo.
Eu optei pelo habitual na entrada de e um suculento peito de pato com molho de mirtílios. Escolhi o vinho, fugindo á tradição, e o Tintin serviu com elegância um Bourgogne, Pinot Noir, reserve 2005. Secamos a garrafa. Depois o Flávio saiu e nós ficamos de conversa a dois, depois a três e finalmente a quatro. Quando saímos do restaurante parecia outro e até a sensação que trazia no peito, do género papel amarrotado no lugar do coração, tinha desaparecido por entre o aroma do vinho tinto e as palavras descontraídas do final da refeição.
Tenho a ligeira impressão que tomei a decisão certa. A Europcar pode esperar.
Restaurante Vincent
Rua Dr. Teotónio Pereira, 7 – Santa Luzia
Tel: 281 381732
Não encerra


SHOPPING 8ª AVENIDA - S. JOÃO DA MADEIRA

Um shopping com 1400 lugares de estacionamento reserva 4 deles para as mulheres! Pintados de rosa, com uma figura de saia no chão e usando uma área maior do que a necessária para os restantes 1396 lugares (para os homens, supõem-se). Será só sentido de humor, marketing ou uma atitude machista no Portugal do século XXI?




Se dúvidas restassem quanto à intenção veja-se a originalidade dos urinóis masculinos do dito shopping. Não surpreende que não tenha equivalência nos WCs femininos.

Há um país machista, discriminador e intolerante que não é rural, nem interior, muito menos sem formação que teima em persistir até quando tenta ser original e moderno. É um modo de estar nos tempos que correm dando dois passos à frente e um atrás, na senda do progresso, ou será que é o inverso?

segunda-feira, outubro 29, 2007


PONTOS DE VISTA



ILHA DO PICO


Com 448 Km2 de superfície, a Ilha do Pico é a segunda maior do Arquipélago e aquela onde se situa a mais alta montanha de Portugal, precisamente o Pico, que lhe deu o nome, com 2.351 m de altitude.
Terra de fortes tradições baleeiras, a sua área divide-se por 3 concelhos, Madalena, São Roque e Lajes e, tal como nas restantes ilhas dos Açores, o valor do seu património arquitectónico concentra-se, sobretudo, nas igrejas e ermidas existentes nas diferentes freguesias:

- A Igreja de Santa Maria Madalena, na Vila da Madalena, a de São Roque e o Convento e Igreja de São Pedro de Alcântara, em São Roque do Pico, a de Nossa Senhora da Conceição e Ermida de São Pedro, nas Lajes e tantas outras espalhadas pela ilha, são marcos que sobressaem no seu património construído.


Dominando, não só todo este património, mas também toda a paisagem rural da ilha, a majestosa Montanha do Pico, classificada desde 1972 como Reserva Natural, é elemento marcante e sempre presente no seu panorama paisagístico.
Dotada de uma rede viária que se desenvolve desde a periferia ao interior, passando pela meia encosta da montanha, cobrindo praticamente todo o território picoense e proporcionando cenários de indescritível beleza, difícil se torna, definir este ou aquele como o melhor ponto turístico, ou aconselhar este ou aquele como o mais recomendado circuito, pois, por onde quer que se ande, não há uma única panorâmica pior que a anterior.

domingo, outubro 28, 2007


A NÃO REPETIR

Fiz hoje algo de que não me orgulho e de que, sinceramente, já me arrependi. Que direito tenho eu de interferir na vida de pessoas que nem sequer conheço?

Nenhum, absolutamente nenhum!

AVANÇO NA LUTA CONTRA A SIDA




Investigadores do Instituto de Genética Molecular de Montpellier, França, descobriram durante testes de laboratório um novo mecanismo para bloquear a multiplicação do vírus da sida. Esta nova abordagem deve permitir evitar que o HIV, ao longo de mutações e adaptações sucessivas, encontre uma forma de resistir à acção dos medicamentos anti-retrovirais actualmente utilizados no combate à multiplicação do virus.


Para ler mais sobre este avanço na luta contra a sida entre por aqui»»»

sábado, outubro 27, 2007

A OBSESSÃO DO CONHECIMENTO

As nações da Terra investem desesperadamente em investigação e desenvolvimento. Para manterem à tona de água a sua competitividade económica e cientifica, as que têm gastam milhões, as que não têm afundam-se cada vez mais na pobreza e no atraso. A corrida ao conhecimento é hoje um processo dispendioso e obsessivo para os povos que querem contar na cena internacional. Cada migalha de conhecimento pode fazer a diferença entre pertencer à elite das nações que contam e aquelas que mendigam conhecimento. O saber compra-se e vende-se a peso de ouro porque só quem o tem manda. A prosperidade e bem estar da humanidade destinam-se antecipadamente aos que sabem.
Esta corrida ao conhecimento tem revelado episódios ridículos capazes de matar uma hiena a rir. Hoje tudo se investiga, tudo se estuda. A natureza está em vias de não ter segredos para o homem. A criatura descobriu os segredos de Deus, fez-se (re)criador e dispensou Deus das suas tarefas mais dignas. Deus deve estar, hoje sobejamente entediado, reduzido à função de segurança das portas do paraíso. Cada grão de vida e cada suspiro de alma já foi investigado e analisado até à exaustão por cientistas obcecados pela descoberta dos segredos deste mundo. Tudo é minuciosamente revoltado, examinado e testado, não vá o segredo maior esconder-se debaixo duma pedra. Tudo é vítima desta busca de alquimista desesperado para vir a transformar esterco em ouro.
Por vezes assusta-me, mas não considero negativa esta devassa da natureza dentro de um tubo de ensaio. Considero esta demanda uma vitória da humanidade logo que todos os seres vivos do planeta sejam contemplados com a sua quota parte nos resultados da pesquisa e não só o Homem. Se a investigação científica não tiver como único objectivo a descoberta e apropriação egoísta do pote de ouro no fim do arco-íris, mas contribuir para salvar o planeta, que tão mal tratado tem sido, com o rumo que o homem deu às suas descobertas e inovações tecnológicas nos últimos séculos. A ciência precisa salvar o mundo da acção negativa do Homem, rapidamente não importa o custo que tal saber implique. É a preservação da vida que está em causa.

LEGIONÁRIO


FEITICEIROS



EXERCÍCIO DE FUTUROLOGIA



A espécie humana corre o risco de se dividir em duas subespécies dentro de cem mil anos. Esta possibilidade foi avançada pelo especialista em evolução Oliver Curry, do Centro de Investigação de Darwin da London School of Economics.

As duas subespécies vão dar origem a uma classe superior e uma inferior. Para o investigador, a espécie humana vai atingir o seu pico no ano 3000. Mas depois vai entrar em declínio, devido à sua dependência da tecnologia. A partir deste ponto, o ser humano vai tornar-se mais exigente na escolha de um parceiro, causando uma divisão em duas espécies. Os descendentes da classe superior serão altos, magros, saudáveis, atraentes, inteligentes e criativos. Os descendentes da classe inferior serão baixos, feios e pouco inteligentes, uma espécie de goblins.

Para ler o resto do horóscopo da humanidade entre por aqui »»»


quinta-feira, outubro 25, 2007

quarta-feira, outubro 24, 2007






DANIEL COSTA-LOURENÇO

Uma amiga que temos em comum fez-me chegar às mãos a segunda incursão de Daniel Costa-Lourenço pela poesia. «Furor das noites cheia é o sugestivo título da segunda obra do jovem autor. Já o seu primeiro trabalho «As vozes em ti» me havia sido apresentado da mesma forma. Autografado pelo autor, como oferta à amiga de infância e colega de escola, logo ela fez questão de mo dar a ler. A minha Gaja é assim, compartilha tudo comigo, menos o marido. Voltando ao tema: Daniel não me é completamente desconhecido como pessoa, embora não tenha tido o privilégio de com ele conviver um único minuto que fosse. Momentos vividos por ambos em tempos idos já me fizeram soltar sonoras gargalhadas.
A quando da publicação do seu primeiro livro ainda procurei adquirir um exemplar, mas não encontrei nas livrarias onde costumo abastecer a minha biblioteca. Desisti. Hoje numa rápida busca na Internet descobri que a fotografia também se inclui nos seus interesses pessoais e parece ter o dom de transformar a imagem em poema como se estivesse a escrever enquanto usa a câmara fotográfica. Alimenta regularmente com as suas criações poéticas um blog de nome mar.da.PALHA. Vale a pena ficar a conhecer o escritor, o poeta e o fotógrafo.
No que me diz respeito o homem terá que ficar para uma próxima oportunidade e não tem sido por falta de vontade da minha Gaja que inúmeras vezes me diz: - Havias de gostar de o conhecer.

FIM DO MISTÉRIO


Finalmente descobri a razão porque há uma semana atrás as visitas a este espaço mais que duplicaram de um dia para o outro. Uma referência elogiosa ao De Corpo e Alma num site gay foi o suficiente para explicar o repentino interesse verificado. O PlatinumBoys tem várias sugestões interessantes para os apreciadores.




O AMOR FAZ MILAGRES


segunda-feira, outubro 22, 2007

PESQUISAS NO GOOGLE

Quem mais procura o termo:

Nazi - Alemanha, México e Austria

Sexo - Egipto, Índia e Turquia

Gay - Chile, México e Colombia

Amor - Filipinas, Austrália e Estados Unidos

Viagra - Itália, Reino Unido e Alemanha

Terrorismo - Paquistão, Filipinas e Austrália

Marijuana - Canadá, Estados Unidos e Austrália

O IRMÃO KACZYNSKI CAIU DO TRONO

Os liberais da Plataforma Cívica (PO) venceram as legislativas antecipadas na Polónia, infligindo uma pesada derrota aos conservadores do Partido Direito e Justiça (PiS) dos gémeos Kaczynski, no poder há apenas dois anos. De nada valeu o show off na cimeira de Lisboa, os polacos perceberam a mediocridade de quem os governava e a comunidade gay respira de alívio, embora o presidente ainda se apelide Kaczynski.


PILOBOLUS

Pilobulos Dance Theatre é actualmente a companhia de bailado norte-americana com maior influência internacional. O seu brilhantismo e longevidade têm sido reconhecidos e aclamados por nomes como Oprah Winfrey ou Johnny Carson, e instituições como a Academia de Óscares de Hollywood, que privilegiou a cerimónia deste ano com a performance destes acrobatas. Pilobulos tem recebido os mais prestigiados prémios e elogios, sublinhando, assim, a excelência e criatividade das suas coreografias, irresistíveis pelo cruzamento entre a ginástica, o humor e a dança.


Para quem prefere a sensualidade dos corpos...



... ou a magia das sombras chinesas:




domingo, outubro 21, 2007

O MEU TINITO

A noite tardava apesar dos dias minguados pelo avanço do calendário rumo ao Inverno. Sinto no ar uma contradição entre o encolher dos dias e o sol que teima em aquecer tardes de praia pelo Outubro dentro. O céu estava imaculado sem um farrapo de nuvem, e lembrei-me que há um ano atrás desfrutava de um sol assim, embora numa latitude a descair para o Trópico de Câncer. Em Maspalomas as noites eram mornas e vivas e os dias claros e quentes como no Algarve de hoje.
A propósito deste pensamento, voltei a lamentar-me por estar ali a tomar uma bica e não a degustar uma italiana à sombra do Coliseu, junto às ruínas de Pompeia ou em Florença como havíamos planeado. Ainda pesquisamos na Net o como e o onde e depois todo o plano se desvaneceu. As férias de Outubro caíram por terra e a Itália do sul vai ter que esperar por nós.
Em Dezembro, Madrid ,outra vez...Talvez. Do mal o menos!
Antes de me concentrar na leitura olhei de novo a praça: arrumada, branca, tranquila como nos países que planeiam as cidades para as pessoas. Os telhados de quatro águas, sobre a Tavira das muitas igrejas, convencem-me, mais uma vez, que o preço a pagar pela preservação do passado vale bem a pena. A qualidade de vida e visibilidade que dá às urbes que negaram prostituir-se aos especuladores imobiliários é uma mais valia para o futuro.
Chegou o café. Enquanto procedia ao ritual de o preparar dei-me conta que o castelhano era o idioma dominante naquela esplanada. Crianças saltavam por todo o lado em gargalhadas de liberdade, nas pedras do anfiteatro misturadas, com bicicletas que cruzavam a praça em silêncio. As cidades têm definitivamente de reservar espaço para as pessoas e para a vida.
Mergulhei no livro, pressentindo ao longe o silêncio do Gilão a crescer em direcção à nascente contrariando as regras da natureza. Depois de o ler, até páginas tantas, zanguei-me com o narrador. Estava parvo? Estava a falar dA alma trocada como se um fenómeno sobrenatural explicasse a homossexualidade do personagem maior? Fiquei desanimado com o rumo que o conto levava, a meio do seu percurso, e quase o deixei de lado. Mas antes de sair de casa tinha resgatado o pequeno volume do abandono, por descargo de consciência, e pensei que era melhor ficar a saber como aquilo tudo acabava. Passadas poucas páginas percebi que tinha sido enganado. Ou melhor tinha sido um leitor ingénuo e pouco perspicaz. O narrador encaminhou a intriga para me fazer a creditar que realmente havia uma alma trocada devido a um fenómeno estranho. E eu não percebi que estava a ser arrastado para acreditar naquilo que não queria. Como é que eu não percebi que todo aquele mistério teria uma explicação totalmente mundana, humana e natural. Reconciliado com o narrador comecei a identificar-me com as suas dores, com as suas arrelias e com as suas maldades. Uma das suas grandes maldades chamava-se Justino Trovoada que lhe arrebatava os sentidos, lhe subjugava o corpo, lhe impregnava a memória de cheiro a feno cada vez que se encontravam.
Tenho pena de não ter um Tinito na minha vida como ele. Tenho apenas um Hugo. Tal e qual. E ter um Hugo sem ter um Tinito é muito bom, mas sabe a pouco. Enquanto pensava nisto ouvi um escangalhar de bicicleta e um Oh!, quase em coro, de quem observou a queda de um rapaz que planeou mal o salto sobre os assentos do anfiteatro da praça. Ainda criou algum suspense, mas lá se levantou e seguiu sem mais tropelias. Eu não tenho um cigano como o Justino Trovoada na minha vida porque ele morreu. Falo a sério. O meu ciganinho chamava-se Ricardino e não era cigano. Era mais do género menino de rua (mas nessa época éramos todos meninos da rua) uns anos mais velho que eu. De chumbar tantos anos na primária acabamos frequentando a mesma classe durante dois anos seguidos. Foi nele que senti pela primeira vez o cheiro de um homem. Aos 12/13 anos já tinha barba e despertava em mim uma atracção inexplicável. Fomos vizinhos ainda antes dos tempo de escola por isso éramos muito próximos. Na escola tinha uma atitude protectora em relação a mim. Embora a minha primeira brincadeirinha sexual tivesse sido com uma menina era o seu odor e o seu toque que me remexiam por dentro. Ainda hoje recordo essas brincadeiras em tudo semelhantes às do ciganinho Justino e do menino Téo. Repetiram-se duas ou três vezes e ainda hoje me pergunto que estranho respeito o levou a não forçar nada mais ousado. O Ricardino era um perfeito gandim. Fez a quarta classe por favor. Não me surpreendeu a sua vocação delinquente que rapidamente fez dele o principal suspeito pelas motorizadas desaparecidas aos vizinhos. Depois quando a gasolina acabava fazia chichi para dentro do depósito e abandonava-as onde calhava.
O Ricardino adquiriu desde a infância aquele ar malvado e maroto que impressionava os mais novos. Ele não tinha que fazer os TPC, nem ajudar os pais a cuidar da horta como eu. Era livre, grande, forte, um homem já. Quando ainda com nove anos fui para Olhão fazer o 1º ano do ciclo preparatório afastamo-nos definitivamente. Depois comecei a escutar com interesse, da boca da minha mãe, as tropelias em que estava sempre envolvido: roubo de bicicletas, depois as motorizadas foram a sua perdição, a sua imagem de marca. Ainda adolescente teve um acidente de motorizada na nacional 125. Um carro colidiu contra a motorizada que conduzia e assim terminou a curta vida daquele que se tivesse vingado poderia ter sido o meu cigano Tinito.


sábado, outubro 20, 2007

MACHADO CICALA - FOTÓGRAFO


site oficial: Machado Cicala

UM REFERENDO INÚTIL


As próximas semanas serão marcadas em Portugal por uma discussão política a que os portugueses vão responder com uma mudança de canal televisivo para ver o que se passa na casa dos reality shows em exibição. Os políticos, esses vão achar o máximo, discutir se o tratado de Lisboa deve ou não ser referendado pelos portugueses. Os nossos políticos vivem num mundo aparte e não percebem que os portugueses se estão borrifando para os referendos. Eles que têm demonstrado ao longo dos últimos anos que não trocam um dia de sofá, de praia ou uma ida ao Shopping por um voto num referendo qualquer. Nem a regionalização, nem o aborto foram suficientemente apelativos para que fossemos votar de forma a tornar esses referendos vinculativos. Mas apesar disso os políticos que acreditam no Pai Natal e que os meninos vêm de Paris no bico da cegonha vão lutar pela ratificação em referendo de um tratado que define como é que a Europa vai ser governada a partir de agora. Se a tese do referendo vingar, o que não acredito, vai ser giro ver os políticos a pregar às flores do campo, aos peixes do Tejo e às aves do céu para que votem contra a perda de deputados em Estrasburgo, contra o fim das presidências rotativas e do comissário garantido e contra a lamentável perda de soberania.

Será uma escusada perda de tempo e dinheiro e um factor de distracção dos portugueses sobre as coisas que realmente interessam. Quando temos um governo e uma oposição que não põem na agenda política questões que interessam aos cidadãos, mas não são prioritárias quando comparadas com o desemprego, o crescimento económico, a saúde e a justiça para além da educação, vão agendar um referendo deprimente, porque mais desinteressante não há que dizer se concorda ou não com um emaranhado de regras que permita à União Europeia funcionar.

Eu perguntaria ainda, com toda a inocência que há em mim, quando é que um governo pode tirar das suas prioridades de governação os temas que referi? Será que algum governo pode deixar de se preocupar com o desemprego, a saúde, a justiça, o crescimento económico? Com esta forma de pensar nunca se abordarão questões consideradas menores, porém fundamentais para o desenvolvimento social e económico do país.


Nunca nos convidaram a pronunciar sobre a entrada e permanência na UE. Nunca se fez uma discussão profunda em Portugal sobre os prós e os contras de termos integrado este clube e agora querem que digamos não ao fim das presidências rotativas?

Preferia que se marcasse um referendo com um objectivo de amarrar os portugueses à UE de corpo e alma e acabar com a desconfiança que estamos lá apenas porque Soares e Sá Carneiro assim decidiram sem nos perguntarem nada. Certamente o referendo não ia decidir nada porque não seria vinculativo, mas pelo menos o nosso povo ficaria mais consciente do que é ser europeu e pertencer à UE com toda a perda de soberania que tal decisão encerra.