
Li, há alguns dias, a carta de um leitor do DN que tinha regressado há pouco da sua primeira viagem ao estrangeiro. O homem, funcionário da administração pública portuguesa, começava por dizer que nunca tinha saido do país porque nunca havia sentido a necessidade de conhecer outros lugares convencido, como estava, de que não tinha nada a aprender lá fora. Generalizando aquilo que ele pensava era que o mundo era um Portugal gigante!?!??? Pensei, enquanto lia: este não saiu daqui, mas também nunca viu televisão, não sintoniza a rádio e os jornais não se vendem na sua terra (Aveiro). Alguém pensar que no seu quintal se usa a melhor tecnologia para fazer crescer as couves, regando-as com o líquido do penico pela manhã, é de um estrabismo sem cura. Mas por sorte, viu-se obrigado a voar até à cidade alemã de Hannover. Para espanto seu, dizia ele na carta, encontrou uma cidade com as ruas limpas, os autocarros bem cuidados e a cumprirem horários ao segundo, serviços públicos eficientes, atendimento simpático e competente nos restaurantes e cafés da cidade, enfim descobriu que há quem consiga fazer melhor do que na sua terra!
Para evitar surpresas como esta o nosso governo devia promover a visita dos portugueses aos países mais desenvolvidos da Europa. Sugiro que cada estudante que conclua o 12º ano com aproveitamento receba como prémio uma viagem tipo INTER RAIL, que é mais acessível aos cofres do estado, para ir conhecer o velho continente. Era um estímulo para combater o abandono escolar em terras lusas e dar aos jovens uma visão menos saloia e limitada do mundo. A viagem deveria ter visitas e actividades obrigatórias: devia ser imprescindível andar de comboio na Suiça, usar uma casa de banho pública na Suécia, caminhar pelas ruas da capital dinamarquesa, fazer uso dos serviços públicos alemães, tomar um pequeno-almoço no Luxemburgo, ir a um museu em Londres, trabalhar um dia numa fábrica austríaca e por aí fora.
De regresso a Portugal todos teriam de fazer um relatório sobre o que tinham visto e aprendido na viagem. Sim, porque se assim não fosse muitos nem saberiam à chegada por onde tinham passado. As ganzas, o alcool, o sono e a preguiça nem os deixaria espreitar pela janela do comboio!
Portugal não é o pior país do mundo, antes pelo contrário é um dos melhores para se viver. Mas é um país que sendo bom poderia ser muito bom ou mesmo excelente. A sociedade portuguesa está entre as 40 mais desenvolvidas do mundo, mas é mais facil resvalar para o razoável e daí para a mediocridade, do que trepar para o excelente. Para se cair basta soltar a corda; para subir é preciso trepar a pulso. O risco de Portugal como nação é este: parece estar sempre mais próximo de largar a corda do que engrenar roldanas ajustar alavancas esforçar-se para chegar ao topo! Talvez se todos fossemos conscientes do que é possível fazer e dos riscos que corremos talvez não perguntássemos tantas vezes porque somos menos desenvolvidos que os outros, mas o que podemos fazer para chegar ao nível de desenvolvimento deles.
Sem comentários:
Enviar um comentário