terça-feira, abril 29, 2008

O BICHO DA FRUTA


No dia 25 de Abril acordei tarde suficiente para repor o sono em dia. Quando liguei a rádio para me despertar e arrancar da cama, sua excelência o Presidente da República discursava na sessão comemorativa do 34º aniversário da revolução dos cravos. O mais alto representante do sistema avisava, de indicador em riste, que não pude visualizar por continuar com os olhos entorpecidos pelo sono, que a juventude portuguesa está alheada da política e dos políticos. Referia-se a um estudo efectuado, a seu pedido, pela Universidade Católica, que deve ter custado uma pipa de massa, que repetia aquilo que ele podia ter escutado directamente da boca da maior parte dos portugueses, jovens ou não: os portugueses estão-se borrifando para a vida política nacional pela indignidade dos seus protagonistas de rapa tacho.


Aposto que o discurso do Presidente da República não vai ter consequências práticas. Tirar ilações e agir em conformidade implica uma modificação profunda da forma como se faz política em Portugal. Obriga a que abdiquem do sistema que promove alimentação farta e segura nos tachos da democracia pouco representativa, tal qual ela alimenta os seus protagonistas. Provocar essa modificação no sistema seria uma espécie de Glasnost e Perestroika á portuguesa, um terremoto no sistema com epicentro no próprio Terreiro do Paço.

O repto do presidente da República pode fazer ricochete nos interesses corporativos da nossa classe política, mas um dia repetiremos o que se passou na Itália de Bettino Craxi. O estudo da Católica demonstra que os jovens não se revêem no sistema político português, tal como a população em geral. Não é procedente que a classe política continue a enterrar a cabeça na areia e fingir que o sistema é racional, saudável e representativo da sociedade portuguesa.


Definitivamente, haja coragem de mexer com os interesses instalados e reformar o sistema antes que ele tombe de tão podre que está.


Nas eleições autárquicas de 2001, pela primeira vez, abdiquei do valor efectivo do meu voto e escrevi no boletim: «Fora o Guterres, fora. Chega. Pim!». Nessa mesma noite o Partido Socialista perdeu as eleições e o Primeiro Ministro, António Guterres, demitiu-se, pondo fim ao pântano em que governava. O que veio a seguir é conhecido de todos os portugueses.

No próximo ano sinto vontade de repetir a exigência. Não contra o governo, como em 2001, mas contra o sistema que a classe política teima em cristalizar. O país já percebeu que este sistema se mantém apenas, e isso é que começa a doer, porque mexe com os tachos em que cada um deles se abastece. Os seus protagonistas já perceberam que o sistema está podre, mas receiam reformá-lo por receio de os arrastar na maré vazante.

É, tão somente, a ponta do iceberg (há muito mais a reformar no sistema), mas se nas próximas eleições eu poder escolher um rosto, um nome, um responsável que me represente no parlamento um deles merecerá o meu voto, se tiver que votar numa sigla, num partido, numa coligação, na continuação do sistema irresponsável e sem rosto, então o mais provável é que escreva no boletim: «Morra o sistema, morra. Pim!».

LOS VIVANCOS



LOS VIVANCOS 7 HERMANOS


A Companhia Los Vivancos vai marcar presença no Auditório dos Oceanos do Casino Lisboa, de 22 de Abril a 4 de Maio, de terça a domingo, às 22h e sábado também, às 17h







segunda-feira, abril 28, 2008

SOBRE DUAS RODAS


Depois de vários meses sem dirigir palavra à minha bicicleta de montanha, ontem aproveitando o primeiro Domingo de «Verão» deste ano fui passeá-la. Hoje cheguei a casa e, ao vê-la, ali, no canto, com ar de quem foi usada e abandonada por mais seis meses, ecoaram na minha mente as palavras de reprovação com que o meu colega vaticinou o fim prematuro da ousadia dominical:«Só uma vez não serve para nada». Pois bem D. Nuno, fique sabendo que subi as escadas e teria vestido o sexy body de lycra, se o tivesse, mas desci equipado e resolvido a levar a minha amiga a dar uma volta por Quelfes.
Não tenho horário disponível na agenda que me permita torturar os glúteos nos ginásios da cidade. Por outro lado, os anos que passam aceleram os efeitos da lei da gravidade e, se não fizer nada para contrariar essa lei infame que não se devia aplicar aos humanos, dentro de poucos anos ninguém me pega.

Muita diferença há em andar pelas ruas de carro ou de bicicleta: começa pela força que os desloca: no primeiro caso: muitos cavalos, no segundo: apenas um jumento fraco e esforçado empurra, a força de pernas, a geringonça. As duas rodas aproximam-nos da natureza. Com o sol na testa e o vento no rosto, não podemos fechar os olhos ao lixo na berma que os nossos concidadãos atiram pela janela dos seus luxuosos carros quando passam. No compasso da pedalada apreciamos pormenores que a velocidade dos carros tornam invisíveis e a elegância do velocípede permite que nos embrenhemos por caminhos, veredas e picadas que o carro recusa. Andei nos caminhos e estradas ao redor da minha aldeia.

Desci até à Ponte Romana de onde se vislumbra o antigo monte do meu avô, hoje uma moderna vivenda com um poste de media tensão da EDP espetado junto à fachada principal. A decisão da EDP de lá plantar aquele mastro de betão com fios electrificados desvalorizou o terreno e as, então, ruínas da casa, onde ainda morei alguns dias, aquando da morte da minha avó paterna. Tornou-se quase invendável.

Voltei a passar pela ponte, também conhecida por Ponte Velha de Quelfes onde os olhanenses enfrentaram os soldados de Napoleão no dia 18 de Junho de 1808, derrotando-os. Foi a primeira derrota das tropas francesas em Portugal e constituiu o mote para o início da resistência à ocupação estrangeira demonstrando que podiam ser derrotadas. Com essa vitória Olhão ganhou o título que ainda hoje conserva de cidade (vila, na época) de Olhão da restauração.

Pela ponte romana de Quelfes já não passam hoje automóveis, mas em tempos o carocha preto do meu pai atravessou-a dezenas de vezes, subindo e descendo cuidadosamente para não tocar nos muros estreitos que a ladeiam. O carocha ia por toda parte.
Certa vez, alguns anos depois de meu avô ficar viúvo, fomos a Cacela Nova visitar uma senhora que tal como ele parecia interessada em ter alguém por companhia. O meu avô era de Olhão e, estou certo, jogava no Boavista e quando se apercebeu que aquela mulher podia cuidar dele, fazer-lhe o jantar e lavar-lhe a roupa, mas ele tinha que retribuir sendo seu companheiro, abdicando da taberna, dos amigos e do vinho tinto nunca mais falou em arranjar outra mulher. Dizia eu que ninguém ficou em casa. O Carocha já cansado de uma vida longa, mas de pouco uso ia carregado como uma barcaça de areia. Já perto do destino a minha mãe que ia ao meio no banco de trás (eu e a minha irmã nunca abdicávamos das janelas), começou a franzir o nariz e a dizer que cheirava a queimado. Ninguém se incomodou. A viagem continuou perante os seus protestos. Era Agosto. O vento entrava pelas janelas escancaradas e ocultava o cheiro a estofo queimado. Só quando a minha irmã se cansou de ir empoleirada à janela e sentou as suas perninhas tenras no assento e gritou que o banco estava a arder é que o carro parou numa travagem só. Os carochas tinham a bateria debaixo do assento traseiro e aquela estava, sem protecção, em contacto com as molas do banco e principiava a pegar fogo à esponja que o revestia. Um susto e tanto, enquanto nós, os putos, nos divertimos com a aflição dos adultos aparvalhados com o ocorrido.


Voltei para trás por uma vereda rumo a sul até à estrada principal. Parei junto a outra ponte, mais moderna, mas ainda sobre a ribeira de Marim e li a placa que referia a batalha acontecida 500 metros mais a norte. Curiosa esta decisão camarária de afixar a placa numa ponte falsa só porque é mais concorrida do que a velhinha do século I d.c., onde quase não passa ninguém.


A propósito da invasões francesas comprei recentemente dois livros sobre o tema, mais especificamente sobre a ida da corte de D. João VI para o Brasil, evitando assim a perda, para a França e para a oportunista e sua aliada Espanha, da independência do país e do seu império colonial. O rei decidiu que dava os anéis para ficar com os dedos: o anel era Portugal, os dedos as colónias com o Brasil como polegar. «O império à deriva» de Patrick Wilcken e sobretudo «1808» de Laurentino Gomes são os livros a que me refiro. Não é todos os dias que tenho o prazer de ler a obra de um homónimo. É certamente um livro que interessa a portugueses e brasileiros pela relevância que teve a presença da corte portuguesa em terras de Santa Cruz para a sua posterior independência e pela visão que dá do Portugal da época, da estratégia do rei e das consequências que aporta ao futuro de Portugal. Uma obra de leitura fácil, mas não uma obra menor. Recomendo.


Era hora de regressar a casa. A descer todos os santos ajudaram, a subir só eu pedalava contra o vento, que nem São Pedro se dignou a dar uma ajuda. Passei pela casa onde viveu Florbela Espanca. Os sinos da igreja cumprimentaram-me às 20 horas em ponto e ainda arranjei fôlego para subir até à sede do grupo etnográfico da aldeia, onde se ensaia a divertida «Dança dos Velhos».
Os vizinhos aplaudiram a minha chegada. Os gêmeos latejavam de dor e os glúteos duridos confirmavam que tinha valido a pena. E ao arrumar a bicicleta dei-lhe duas palmadinhas no selim e prometi-lhe não mais usar e abusar dela e depois abandoná-la meses sem lhe dar o prazer de uma rapidinha, que fosse.

domingo, abril 27, 2008


DESASTRE AMBIENTAL AUTORIZADO

O antes...

A Lagoa dos Salgados era assim: um pequeno oásis para milhares de aves aquáticas encravado entre o sítio dos Salgados (Albufeira) e a bem conhecida Praia Grande (Silves) .
Até há bem pouco tempo a descrição oficial da Lagoa reflectia a sua importância ecológica e ambiental como atesta a página da CCDR do Algarve, uma das 93 áreas importantes para as aves identificadas em Portugal e uma das únicas zonas húmidas ainda existentes no Barlavento Algarvio.

Mas tudo isto escorreu para o mar, a página referida carece de ser alterada rapidamente pois a Lagoa dos Salgados como nela está descrita não existe, pelo menos de momento. Os interesses económicos continuam a desprezar os interesses ecológicos sempre que estes ameaçam os seus lucros.

A zona húmida, lugar de nidificação de centenas de aves, foi aberta ao mar, «causando a perda de dezenas de ninhos de aves aquáticas protegidas». A Sociedade Portuguesa de Estudo das Aves (SPEA) caracteriza a iniciativa de «desastre ambiental». Um tractor abriu um canal no cordão dunar que separava a lagoa do mar, permitindo o escoamento da água. Essa acção que terá sido para impedir o alagamento dos greens de golfe dos Salgados durante as últimas chuvas, foi devidamente autorizada pela CCDRA, e deixou a seco uma das mais importantes zonas húmidas do litoral algarvio, deitando a perder dezenas de ninhos de espécies protegidas e raras que nidificavam nas ilhas e sapais da lagoa, entre as quais o único casal nidificante de pêrra em Portugal (uma das espécies de aves mais ameaçadas na Europa).

...e o depois

JEANS







sexta-feira, abril 25, 2008

A ESFINGE











ONDE ESTAVA EU NO 25 DE ABRIL?

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen



Onde estava eu no dia 25 de Abril de 1974?

Dormia um sono inocente e profundo como dormem as crianças aos 9 anos de idade que não passam frio, nem fome, nem tem medo do papão que está em cima do telhado. Não ouvi o «Depois do Adeus», não tinha o rádio sintonizado no Rádio Clube Português, só soube que existia uma Grândola que era vila morena mais tarde.

Acordei no dia 25 de Abril desse ano e, certamente, bebi o meu leite com torradas antes de fazer a pé os três quilómetros que me separavam da escola primária de Bias do Sul, Moncarapacho, Olhão. Só ao entrar na sala de aula me apercebi que dia estranho era aquele. Só mais tarde me dei conta que não voltaria a ter aulas num dia 25 do mês dos cravos.

Entrei na sala de aula e suspeitei que algo de grave tinha acontecido. A fotografia daquele senhor que estava entre a cruz e o quadro preto, onde a professora nos humilhava quase diariamente demonstrando à turma a nossa ignorância aparente, estava deposto sobre o estrado. A senhora professora lacrimejava como se uma desgraça tivesse acontecido. Será que o retrato caiu lá de cima e a atingiu? Foi um tremor de terra? Ninguém explicava e a pequenada não percebia porque não começava a aula se já passava da hora!

- Vão brincar, vão para o recreio. O que quer que tivesse a provocar aquela confusão, não estava a correr mal para os nossos interesses. Eu talvez nem tivesse feito os trabalhos de casa. Livrava-me de escutar o ralhete da professora e ainda tinha prémio: brincadeira a dobrar. A manhã foi de brincadeira sobressaltada porque havia qualquer coisa no ar que tinha provocado aquela alteração na rotina da escola. Pouco antes da hora de almoço fomos dispensados. - Podem voltar para casa. Hoje não há escola. Boa, boa! Que não havia aulas já tínhamos percebido, mas porquê ninguém parecia interessado em esclarecer. Aquela desconsideração para com os pirralhos era típica.

Só de volta a casa comecei a perceber o que estava a acontecer. A televisão não transmitia desenhos animados. Só uma música persistente e aborrecida, sempre igual. Uns senhores com fardas da tropa vinham dizer, de tempos a tempos, que a população se devia manter calma. Mas lá no sítio estava tudo calmo!? Onde estava a revolução que eu queria ver.

Os acontecimentos daquele dia e do que se lhe seguiu provocou o repentino aumento do vocabulário e de conceitos que até ali nunca tinha escutado ninguém falar: revolução, ditadura, fascismo, PIDE, democracia, liberdade, comunismo, socialismo, eleições, partidos políticos, e muitas outras palavras que passaram a fazer parte das conversas dos portugueses e, o melhor de tudo, feitas em alta voz, sem medo de ser escutados.


O que se seguiu ao 25 de Abril de 74 teve uma profunda influência no que viriam a ser os meus interesses futuros. Como exemplo só vos digo que, com 10 anos de idade, acompanhei o escrutínio das primeiras eleições para a assembleia constitucional de 75 até às cinco da manhã, quando a minha mãe se apercebeu que eu não me tinha deitado e apagando a televisão correu comigo para a cama.


No dia 25 de Abril eu estava, criança, ao lado dos que sonhavam um futuro limpo, sem sombra de fome, sem vestigios de guerra, mas fecundo de liberdade. Estava, sem o saber ainda, ao lado dos que desistiram de esperar pelos sonhos sempre adiados e pelo resgate do Portugal anacrónico estagnado numa ditadura podre a pedir que a jogassem para o caixote do lixo do passado.
Hoje considero que no geral e no essencial a revolução dos cravos atingiu os seus objectivos. No entanto há pormenores que falharam ou continuam por concretizar, mas como o processo iniciado em 74 não parou, está na mão de todos nós realizar em pleno o sonho democrático que moveu os capitães de Abril.

TROVA DO VENTO QUE PASSA

EDSON CORDEIRO / VOZES DE MULHER



Um espectáculo surpreendente, divertido, emocionante e, sobretudo, muito bem conseguido. Foi o melhor que assisti até hoje no Teatro das Figuras. A relação qualidade preço é magnífica.

A não perder em Braga e em Lisboa nos próximos dias.

quinta-feira, abril 24, 2008

GEORGE CLOONY DE SALTO ALTO


George Clooney, um homem que dispensa apresentações, confessou numa entrevista à revista alemã In Touch que «adora vestir roupa de mulher, mas tem sempre problemas com os sapatos de salto alto, o que não é de estranhar uma vez que necessita de uns Manolo Blahnik tamanho 44»
Declarou ainda que o aterroriza a possibilidade de ficar calvo. Bem, se isso vier a acontecer pode sempre usar uma peruca loura a condizer com os Blahnik, não?

Via: 20 Minutos