
Está a ponto de estrear um daqueles filmes que assisto acompanhado duma «overdose» de pipocas doces para aumentar o prazer. Gosto de escutar o ramalhar das pipocas no cartão misturados com o ambiente sonoro da sala e de sentir o sabor adocicado dos tufos de milho frito empurrados, um a um , entre os lábios que depois lambo para não desperdiçar nem uma pitada de açúcar. É assim quando procuro o cinema como torneira de sensações e não como fonte de pensamentos. Se me empanturrei delas nos dinossauros do Jurássic Parc e no Apocalypto, mais recentemente, então este será um daqueles filmes que atenta contra à minha dieta equilibrada. Depois da frustração de Jumper preciso de um filme de aventuras que me redima, e enquanto o novo Indiana Jones não surge no grande ecrã, os efeitos especiais de 10000 BC foram feitos de encomenda: transportar-me-ão com um realismo cada vez mais credível para um mundo extinto, mágico e épico ao mesmo tempo. É como se de repente adquirisse poderes de super herói e deixasse de estar limitado às leis da limitada existência humana. Os efeitos especiais conferem ao cinema o poder ilusório da magia, transformando o assento e o ecrã gigante da sala numa máquina tele transporte espaço-temporal. Só quem não viveu de perto, tão perto que poderia ter sido sacrificado aos deuses, as emoções do herói de Apocalypto, não percebe do que estou a falar. Durante o período de tempo em que a máquina está a funcionar emprenho o meu cérebro com as sensações que o realismo do cinema moderno permite e ganho poderes que me fazem esquecer que tenho uma vida que não me permite sequer levitar.
Um filme como este, feito com rigor histórico vale muitos chás de cadeira na sala de aula, muitas horas de estudo para a canzoada nova. Mas o problema está exactamente aí. Este cinema espectáculo não foi feito para substituir a sala de aula, embora possa dar uma grande ajuda ao professor na hora de fazer entender ao aluno o que foi e como foi o passado. A espectacularidade, a receita, o sucesso do filme sacrifica muitas vezes o rigor histórico. Também se pode argumentar, com propriedade, que um filme não pode ter a pretensão de se substituir ao professor ou ao rigor científico dos livros. Verdade. O grave é que muitos espectadores não têm conhecimentos, nem espírito crítico para separarem a ficção histórica da realidade científica.
Eu sou fã do romance histórico (lá está o gosto pelo tele transporte no tempo e no espaço): obra literária que mistura a verdade histórica com o enredo imaginado pelo autor. Por vezes é essa promiscuidade, que eu sei que está lá, que me confunde e irrita, quando não tenho argumentos intelectuais para destrinçar o que é o quê na sequência narrativa.
Aguardo a estreia de 10.000 BC e já agora o Indiana Jones com o gozo de uma criança que aguarda o Gameboy prometido para o dia de aniversário.
Por falar em bom cinema amanhã tenciono ir ver o vencedor do Óscar para melhor filme de 2007: Este país não é para velhos .