quinta-feira, agosto 17, 2006
QUANDO O BRASIL NOS ENTRA PELA PORTA DENTRO
Portugal tornou-se nos últimos 10 anos destino de imigração para muitos milhares de homens e mulheres que procurando uma vida mais digna, ou pelo menos diferente, bateram à nossa porta em busca de trabalho. Os africanos de Cabo Verde, da Guiné-bissau, de Angola já por cá tentavam a sorte desde os anos 80. Depois começaram a chegar aos milhares romenos, moldavos e sobretudo ucranianos, os chineses, paquistaneses, em menor quantidade salpicam com os seus trajes, linguajar e tradições as ruas das cidades portuguesas. Outro tipo de imigrantes escolheu Portugal para viver, vindos dos países da União Europeia, não em busca de vida melhor, mas em busca de uma vida diferente: ao sol, longe do stress das grandes cidades, para envelhecer na calma da paisagem portuguesa e aproveitar da qualidade de vida que por cá é possível usufruir, sobretudo quando a conta bancária é bem recheada por reformas generosas ou pés-de-meia chorudos. Em especial a região onde vivo há-os por todo o lado, já são nossos vizinhos, conhecidos, até amigos; não há quem não os tenha, vindos do norte ou centro da Europa para experimentar uma vida diferente.
Os imigrantes africanos estão por cá há mais tempo, continuam mal integrados socialmente, na sua esmagadora maioria, e uma atitude racista dissimulada, presente na sociedade portuguesa mantêm-nos na periferia das cidades muitas vezes na fronteira entre o emprego, a escola e a criminalidade. Pouco instruídos, trabalham na construção sem perspectivas de mudança. Notam-se pela cor da pele e pela música que trouxeram de África.
Os eslavos, muito frios e distantes dos latinos, parecem estar de passagem. Querem apenas uns euros e voltar para as terras geladas do leste europeu. Vieram com formação universitária e especializada trabalhar na construção da Expo 98 e nos estádios de futebol do Euro 2004. Já aprenderam o português, estão a migrar para profissões mais qualificadas e melhor remuneradas. Mas continuam pouco sorridentes, deixam muito a dever à simpatia e é de fugir encontrá-los a atender o público!
Quem veio mudar a paisagem social portuguesa foram os irmãos brasileiros. Do Brasil, começaram por vir as novelas da Globo que nos ensinaram as garridas expressões do português falado, com muito açúcar, lá do outro lado do Atlântico. Quando nos demos conta que do país irmão estavam a chegar imigrantes aos milhares, já não estranhamos as expressões fortes do português do Brasil. O visitante brasileiro tem, sem darmos por isso, pintalgado, de azul e amarelo, a paisagem socio-cultural do nosso país. Não só usamos com a maior facilidade as tais expressões vindas lá de baixo, como estamos a trocar o Bitoque pela picanha, a caipirinha tornou-se moda. O brasileiro que habita as nossas cidades é descontraído, jovial, simpático por natureza, animado e positivo sem limites. Acabamos por os achar encantadores e nos deixar contagiar pela sua forma optimista de olhar o futuro. Sentimos até uma pontinha de inveja dessa alegria de viver por tudo e por nada. A tristeza não se dá bem com os naturais de terras de Santa Cruz e isso tem sido bom para uns latinos fadistas e melancólicos que não vibram com a vida como o espanhol ou não tem a força de viver dos italianos, nem a arrogância dos franceses!
Mas o brasileiro não é só alegria. A sorte que encontraram ou a motivação que cá os trouxe não era para todos a mesma: muitos procuraram o que não deviam e encontraram o que não queriam. O mundo do crime seduziu muitos e hoje as cadeias portuguesas também falam com sotaque ao jeito de Jorge Amado. Gente à procura de vida fácil também chegou do país de Lula da Silva. Falar de vida no limiar da ilegalidade passou a estar associado ao modo de estar de muitos brasileiros que não encontrando em Portugal o El Dourado enveredaram pela vida fácil da pequena ou grande criminalidade. Injustamente e infelizmente falar de brasileiros em Portugal começa a ser sinónimo de chico espertismo, ilegalidade e crime. è sempre assim uma minoria acaba por dar má fama a uma maioria ordeira, trabalhadora e alegre e jovial que muito tem contribuído para colorir a sociedade portuguesa de vida.
A minha primeira «amizade» com um brasileiro acabou com um cheque de 200 dólares que enviei para Santa Catarina para que o Alexandre pudesse regressar a Portugal para trabalhar, depois de uma temporada para matar saudades na terra natal. Telefonou para um amigo na Alemanha que por sua vez me telefonou a para o ajudar a regressar que logo me restituiria os 200 dolares. Sabia que não veria outra vez o dinheiro enviado pela oestern union, mas era o Klaus que me pedia e por ele ofereci a viagem de regresso ao «amigo» Alexandre. Ele voltou e veio trabalhar para Olhão, mas fugia de me encontrar como o Diabo foge da cruz. Não insisti. Foi a minha boa acção de escuteiro desse ano. O Klaus é que não se perdoa até hoje de me ter pedido. É este tipo de artimanhas e trapaças que põe os portugueses de pé atrás para com os imigrantes brasileiros. Esvai-se a confiança, fica a desilusão!
Não confundo a árvore com a floresta e estou certo que os nossos imigrantes são fundamentais para que a sociedade portuguesa se conheça melhor e compreenda que há outras formas de enfrentar a vida. A maior parte dos estrangeiros que vivem entre nós embelezam a paisagem urbana portuguesa e mostrar aos locais que é possível estar de bem com a vida, mesmo quando ela não quer sorrir para nós.
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1 comentário:
CARA FICO MUITO ENVERGONHADO POR ESTA AÇÃO TERRÍVEL DE MEU COMPATRIOTA, MAS AINDA BEM, QUE VC SSABE QUE NÃO SÃO TODOS OS BRASILEIROS QUE SÃO COMO ESTE. AS VEZES PARECE, ATÉ ENTRE NÓS BRASILEIRO, QUE ESTÁ EM NOSSA CULTURA SER TRAPACEIRO, MAS SEGUNDO DIZ A HISTÓRIA...NA ÉPOCA DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL RECÉM-DESCOBERTO, PRA CÁ SÓ VINHAM OS PORTUGUESES CONDENADOS POR ALGUM CRIME OU ALGO SEMELHANTE.....MAS EU NÃO CREIO QUE SEJA ESTA A VERDADEIRA HISTÓRIA....ATÉ PQ EU NÃO SOU TRAPACEIRO....MEUS PAIS ME ENSINARAM QUE A MORAL ESTÁ ACIMA DE TODOS OS VALORES.
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