sábado, agosto 19, 2006

A LEVEZA DE SER GAY


Viver de faz de conta não tem piada. Fingir, anos a fio, que se é uma coisa sendo outra é como carregar um peso na consciência a toda a hora todos os dias. Agir naturalmente sem receio das consequências de ser verdadeiro compensa os pequenos dissabores sofridos fruto da intolerância daqueles que são, apenas, dignos da nossa indiferença. Agir com verdade tem a virtude de nos trazer o respeito, a admiração e a credibilidade dos outros.
Quanto mais desafio a minha sorte, mais acredito que há mais a ganhar do que a perder ao assumir que se é gay. Ganha-se uma paz de espírito, um gozo de vida, uma leveza de ser que compensa discriminações que se possa ter de enfrentar.
As pessoas sentem-se intimidadas pela diferença, por isso rejeitam-na. Também não gosta que lhe seja imposta uma realidade com que não se identificam. O caminho a percorrer, na minha opinião, passa por mostrar que a diferença não é uma ameaça. Jogar, como lama à parede branca, a nossa homossexualidade, como muitos gostam de fazer não resulta. Quem agride é agredido. Integração - a palavra chave da aceitação é integração. O que está integrado pertence; não é estranho. O que insiste em chocar, em ostentar marcas distintivas que chocam não se integram e dificilmente são aceites. Funciona da mesma forma que com os imigrantes: quem preserva a sua cultura sem a impor aos locais integra-se quem rejeita a cultura local e quer impor a sua entra em conflito e torna-se hostil. Isto acontece na Europa com muitos dos imigrantes de religião e cultura muçulmana tal como acontece com os homossexuais que ostentam de forma folclórica as suas plumas e lantejoulas e as usam como arma de arremesso, numa provocação constante às mentes férteis em hábitos arreigados e tradições seculares.
A minha forma de estar é esta: a de ser sem ostentar nem provocar. Não imponho a minha diferença, mas não a escondo de ninguém. Quando é preciso estou lá para defender os meus direitos. Esta forma de estar tem-me dado muitas alegrias, o respeito de colegas, amigos, vizinhos e nunca me senti prejudicado profissional ou socialmente, embora saiba que sempre se fala, crítica e ridiculariza a minha opção sexual. Para falar verdade estou numa fase da minha vida em que os riscos são menores. Há 10 ou 20 anos não pensava desta maneira e não via com tão bons olhos que soubessem da minha sexualidade pouco ortodoxa, para a mentalidade vigente.

Sem comentários: