quinta-feira, julho 06, 2006
UM ESPELHO PARA A NAÇÃO
Juro que assim que acabar o campeonato do mundo de futebol não mais tocarei no assunto até que valha a pena voltar a ele. Que grande verdade ao estilo Monsieur de La Palisse! É verdade, mas prevejo que lá para Maio ou Junho do próximo ano se justificará voltar ao tema.
Por hoje vou voltar ao tema não para carpir as mágoas da derrota, mas para olhar este fenómeno como gosto de vê-lo: como fenómeno de representação. Dizia Francisco José Viegas, hoje na Antena 1 que o futebol é uma manifestação de representação. Os onze jogadores que entram em campo são considerados a representação de um povo. Eles tomam nos seus pés o sonho de um país inteiro como se o futebol fosse o mais importante que há no mundo.
Os portugueses projectaram-se naqueles jovens desejosos que eles redimissem no futebol, em contenda com as mais poderosas nações do mundo, as suas frustrações, dificuldades e humilhações no quotidiano difícil que é a realidade nacional nos últimos anos. Os craques da nossa selecção superaram-se, comandados por um maestro vindo do outro lado do Atlântico, chegaram a tocar a presença na final, naquele penalty, que Ricardo quase voltava a defender. Mas a tradição cumpriu-se nas vitórias contra a a Holanda e Inglaterra e na derrota contra uma das bestas negras da nossa selecção: a França. A outra é a Itália que não vamos encontrar na final. Já a Alemanha, se a tradição se cumprir, nos permite ter esperança no 3º lugar.
Mas eu queria falar da representação que falava Francisco José Viegas e aí os nossos jogadores representaram Portugal com dignidade, e também aí os representaram com alguns dos seus defeitos. Mostraram garra, empenho, capacidade de luta, sabedoria, paciência, trabalho de equipa e imaginação. A partir de certa altura a selecção nacional começou a ser acusada de arruaceiros, de «fiteiros» e simuladores de faltas, agressivos e de falta de fair play. Se não reconheço a falta de fair play da equipa portuguesa, no que diz respeito a transformarem a grande área numa piscina de mergulho, já a conversa é outra. No jogo de ontem isso aconteceu, com jogadores a tentarem enganar o árbitro. Na derrota os portugueses, menos que em tempos passados tentaram culpar o árbitro, a FIFA, a sorte... Não culpam a falta de pontaria, nem a falta de faro pela baliza que a selecção revelou ao longo do campeonato e ontem mais do que antes.
Agrada-me que algo parece ter mudado: não passamos do 80 para o 8 com a derrota. Afinal estar entre os 4 melhores não é todos os dias que se consegue, nem é qualquer sector da vida nacional que o alcança.
O país viu-se ao espelho, o país viu-se projectado no desempenho desta selecção? Não os portugueses sabem que eles ficaram muitos furos acima daquilo que nós somos como povo. Eles foram uns vencedores; nos vamos continuar acomodados tentando fintar o trabalho, o fisco, os estudos, a segurança social na esperança que o árbitro marque penalty ou pelo menos livre à entrada da grande área que nos permita marcar o golo que nos vai dar a vitória quer ela seja justa ou não! Que interessa?
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