segunda-feira, junho 05, 2006

FUTEBOLODEPENDENTES


Quer se goste de Futebol ou não, nos próximos 30 dias ele vai tornar-se absolutamente incontornável. Nos meios de comunicação ou nas conversas de café os Figos e os Ronaldos, os nossos ou os dos outros estarão omnipresentes. O país vai mais uma vez parar de pensar e de se preocupar com os graves desafios que tem pela frente. Quem vai pensar nos excedentários da função pública? Ou pensar nas reformas da segurança social, no emprego que pode perder enquanto se disputa um jogo de futebol na Alemanha? O governo tem pela frente um mês óptimo para aprovar leis controversas e difíceis. Ninguém vai prestar atenção!?

Quer queiramos quer não, o Futebol tem uma força que ultrapassa a lógica como fenómeno social. Há acontecimentos mais marcantes socialmente e mais tocantes a nível pessoal que não provocam esta histeria quase irracional. Não sou apreciador de Futebol como desporto/arte de jogar a bola. O meu desporto favorito foi desde pequeno o Atletismo, com os seus semideuses da velocidade das alturas ou da força. A superação pessoal é para mim mais emocionante, nunca 22 homens a a tentar introduzir uma bola na baliza adversária. Só perco o meu tempo a ver este desporto quando está em causa a nação, isto é, quando a vitória ou a derrota de um clube nacional ou da selecção portuguesa tem implicações na auto estima nacional e na minha pessoalmente. Sou capaz de acompanhar um clássico do campeonato nacional enquanto me ocupo com outra actividade e jogo os olhos para o televisor quando alguém aparece em condições de marcar um golo. Só os grandes jogos internacionais me fazem vibrar com a vitória nacional ou me murcham a expressão do rosto em caso de derrota. Não percebo nada de tácticas, nem estratégias de jogo. Assisto ao futebol por razões patrióticas, nunca pelo Futebol em si, como arte de jogar à bola. Essa mal consigo apreciar. A beleza do Futebol, para mim limita-se, às vitórias dos clubes nacionais no estrangeiro ou sobretudo da selecção nacional. É também desta forma que vibro com um jogo de Andebol, de Volei ou de Hóquei Patins. Mas o meu estado de espírito não muda por causa de uma vitória ou de uma derrota.

Este desporto e não outro, tem, no entanto, uma importância política e social pelo mundo fora que a ninguém pode deixar indiferente. As ditaduras, as democracias, os comunistas e os capitalistas aproveitaram vitórias e derrotas do Futebol para galvanizarem o povo à volta dos seus projectos políticos e mostrarem a bondade dos seus regimes.

Não existe mal nenhum em se gostar de futebol. Os intelectuais exorcizam os malefícios do desporto rei como se ele fosse a raiz de todos os males de que a nação enferma. Não creio. O mal não está em se gostar deste jogo tão empolgante. O mal está em se viver metade da semana a pensar no jogo do próximo Domingo e a outra metade a comentar o jogo de Domingo passado. Há muito boa gente que não tem vida para além do futebol do seu clube. O futebol torna-se a única alegria e motivação que os faz chegar ao fim da semana. A família, o emprego, as questões políticas, as sociais, as culturais não passam a porta da vida que o maldito jogo preenche por completo. Aqui estamos no domínio da alienação pessoal e social. Quando se chega a isto, e sabemos que não são centenas, nem alguns milhares, mas centenas de milhar de portugueses que não passam para além da barreira do futebol. E o país perde porque o fanatismo futebolístico reduz as pessoas a zombies sociais, a analfabetos políticos e comatosos culturais e vegetantes familiares. Destes portugueses, ao espremer, não sai mais nada que injurias aos árbitros, ofensas aos adversários e adoração cega pelos jogadores e seguidismo pelos dirigentes.

Bem que o governo podia lançar um imposto qualquer, elevado quanto baste, sobre os futebolodependentes. Reduzia o défice a menos de 3% do PIB em menos de 1 ano!

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