Neste preciso momento era meu desejo estar no Teatro das Figuras a assistir à monumental ópera de Verdi: Aída, mas não estou. Estou em casa, quase deprimido, sem ganas de nada fazer. Já liguei e desliguei a televisão. Já abri e fechei o livro que estou a ler. Já abri o frigorífico e fechei sem que nada do seu conteúdo me abrisse o apetite e agora entrei no meu blogue abandonado há meses. Talvez daqui a pouco apague tudo o que estou a escrever e nem venha a chegar ao vosso conhecimento este estúpido estado de alma em que me encontro.
Já que não consegui bilhetes para a ópera devia ter ido ajudar o Shwasy no seu trabalho. Sempre me ocupava a fazer algo de útil e não me deixava mergulhar nesta letargia pré-dia de trabalho. Pela primeira vez em muitos anos vou trabalhar no Domingo de Páscoa. Ainda tenho trabalho, ainda tenho o mesmo namorado, ainda vivo na mesma casa. Há um ano atrás, mais coisa menos coisa, escrevi aqui que 2008 seria um ano de mudanças e não me enganei. Muita coisa mudou embora pareça que tudo está na mesma. Talvez, sempre este talvez, de incerteza, de pouca vontade, que me persegue nos últimos tempos... Dizia eu que talvez vos conte tudo o que mudou, e foi muito, nos últimos doze meses da minha vida. Hoje escrever o que se passou durante os últimos tempos apenas contribuiria para me deixar mais depressivo e eu não gosto que os outros percebam que não estou nos meus melhores dias. Sou um optimista mesmo quando o céu ameaça desabar sobre a minha cabeça. Vendo bem tenho a leve sensação que é isso que me vai acontecer mais cedo ou mais tarde.
Não faz parte do meu modo de encarar os problemas deixar-me engolir por eles por isso depois de almoçar com o que resta da família, tentei sentar-me numa esplanada ao sol, mas o sol não saiu à rua para me fazer companhia, apenas um vento norte desconfortável. Vim para casa e quando o Shwasy disse que se eu não o quisesse ir ajudar que não fazia falta, fiquei em casa. Liguei a televisão e vi o Benfica dizer adeus ao campeonato, mas nem isso me alegrou, porque a derrota dos lampiões foi injusta. Então li o capítulo 8 do maior livro que já li até hoje, depois da Bíblia e tentei animar-me com a experiências vividas por Gregory David Roberts na Índia depois de ter fugido de uma prisão de alta segurança na Austrália. Shantaram é um grande livro em todos os aspectos: 889 páginas que nos passeiam pelos bairros de lata de Bombaim, pelo sub-mundo do crime da grande metrópole indiana e pelo coração e mente de um foragido da lei a quem aquela experiência de vida o reconcilia com o mundo e consigo. Quando acabar de ler o livro estou certo que terei uma vontade enorme de visitar o país de Shantaram.
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