A crise económica, que ainda se sente na carteira de grande parte de nós, empurrou vários milhares de portugueses em busca de trabalho no estrangeiro. Não deixa de ser desconcertante que a UE, que nos impõe um euro caro e um défice orçamental baixo, mitigue indirectamente a crise social, que 7 anos de profunda crise económica poderiam provocar, recebendo muitos milhares de nacionais que ficaram desempregados. Do mal o menos: assim o governo ainda pode dizer, sorrindo, que o desemprego está contido. Não exportamos bens e serviços, mas exportamos braços que serão sempre mais mal pagos que os nacionais dos países de acolhimento, mas muito melhor pagos do que se tivessem a sorte de se conformar com um emprego em Portugal. Para empregos mal pagos que venham os imigrantes de países ainda em situação mais miserável que a nossa.
Muitos jovens portugueses ponderam emigrar ainda que não lhes falte ofertas de emprego por cá. Um exemplo e uma oferta de emprego, ao mesmo tempo: a empresa onde trabalho procura colaborador para a sua estação de Armação de Pêra: jovem dinâmico, boa apresentação, responsável, de preferência com o 12º ano complementar, fluente em língua inglesa e fácil relacionamento humano. Quem tiver os requisitos não exite: deixe contacto na caixa de comentários ou envie um e-mail.
Pois é, está difícil recrutar alguém com estas características, mas eu até não sou tão exigente: basta-me boa apresentação (fundamental), 9º ano, razoáveis conhecimentos de inglês. O resto que se lixe! Mesmo assim não tenho ninguém para preencher a vaga, que em breve serão duas. Conseguem adivinhar o porquê de tamanha dificuldade? Nem mais: o salário base que a empresa oferece para obter os serviços de alguém que tem uma formação acima da média nacional é de 430€, mais subsidio de alimentação, mais comissões!
Pois não é muito. Quem consegue alimentar uma família com pouco mais de 500€ por mês? Aqui bem perto há um hotel que recruta empregadas de limpeza por 550€ mensais com direito a uma refeição diária. Um salário quase mínimo, para alguém que tem de falar um idioma estrangeiro, ter estudado pelo menos 12 anos da sua vida, ser responsável e saber estar é mais do que um convite à emigração: é um ponta-pé no traseiro para o outro lado da fronteira.
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