«A corte chegou ao Brasil empobrecida, destituída e necessitada de tudo. Já estava falida quando deixara Lisboa, mas a situação agravou-se ainda mais no Rio de Janeiro. Deve lembrar-se que entre 10.000 e 15.000 portugueses atravessaram o Atlântico com D. João. para se ter uma ideia do que isso significa, basta ter em conta que ao mudar a sede do governo dos Estados Unidos de Filadélfia para a recém-construída Washington, em 1800, o presidente John Adams transferiu para a nova capital cerca de 1.000 funcionários. Ou seja, a corte portuguesa no Brasil era entre 10 a 15 vezes mais gorda do que a máquina burocrática americana na época. E todos dependiam do erário real ou esperavam do príncipe regente algum benefício em troca do «sacrifício» da viagem. «Um enxame de aventureiros, necessitados e sem princípios, acompanhou a família real», notou o historiador John Armitage».
(...)
«O historiador Luiz Felipe Alencastro conta que, além da família real, 276 fidalgos e dignatários recebiam uma verba anual de custeio e representação, paga em moedas de ouro e prata retiradas do tesouro real do Rio de Janeiro». (...) acrescenta a esse número mais 2000 funcionários reais e indivíduos que exerciam funções relacionadas à coroa, setecentos padres, quinhentos advogados, duzentos praticantes de medicina e entre 4000 e 5000 militares. Um dos padres recebia um salário fixo anual de 250.000 réis - o equivalente hoje a 14.000 reais - só para confessar a rainha. «Poucas cortes europeias têm tantas pessoas ligadas a ela quanto a brasileira, incluindo fidalgos, eclesiásticos e oficiais», escreveu o cônsul inglês James Henderson. Ao visitar as cocheiras da Quinta da Boa Vista, onde D. João morava, Henderson surpreendeu-se com o número de animais e, principalmente, de serviçais ali empregados. Eram 300 mulas e cavalos, « com o dobro do número de pessoas para cuidar deles do que seria necessário em Inglaterra».
Era uma corte cara, perdulária e voraz.»
in 1808 de Laurentino Gomes, pág. 161 e162
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