terça-feira, maio 13, 2008

A GERAÇÃO 500 EUROS E A POLÍTICA

O nosso Presidente da Republica chamou para o debate público a fraca participação dos jovens na vida política do país. Pareceu-lhe, e, a meu ver bem, que os jovens andam demasiado entretidos com a play station, com os chats na net e com a colega ou o colega dos peitorais salientes. A tese foi bem formulada só que para além disso, o homem, não está a acertar na forma de enfrentar o problema.

A dificuldade começa pela recordação, ainda bem presente na mente de muitos portugueses, que nos seus tempos de Primeiro Ministro não ter sido um governante acessível e próximo dos jovens. Antes pelo contrário, a Cavaco Silva sempre lhe faltou tacto para lidar com os mais novos. A sua pose austera e conservadora nunca inspirou simpatias por parte dos mais novos. Mas o passado perdoa-se. O que conta é o presente e se ele está a tentar redimir-se, então está perdoado, pelo menos da minha parte não há ressentimentos. Acontece que a forma como está a tratar do assunto merece-me muitas críticas.

Os jovens são por natureza avessos ao formalismo e ao institucional e é por aí que ele decide pegar nas pontas do problema. Chama as Jotas dos partidos do sistema e pretende assim chegar à juventude portuguesa? Ora quem está nas Jotas, não é precisamente o alvo do presidente. Esses já estão motivados para a política ou pelo menos para os «tachos» que quando crescerem vão herdar dos papás. Acreditar que são os jovens das juventudes partidárias que vão fazer a ponte para os desinteressados da política, não me parece ser a porta certa de entrada.Por outro lado cometeu um erro de palmatória. Como o Bloco de esquerda não tem Jota, não convidou nenhum representante seu para debater o problema da ausência dos jovens da política: mais um tiro de pólvora seca. Não estará o senhor presidente a esquecer que é precisamente o Bloco de Esquerda o partido que conseguiu o milagre de arregimentar ao redor dos seus ideais políticos, dos seus projectos, das suas lutas uma grande percentagem de jovens universitários e mesmo os de barba ainda mal semeada viram nos bloquistas os defensores, mais fiéis das suas causas? Talvez estudando o sucesso do BE junto dos jovens chegássemos lá mais depressa.

Os partidos tradicionais não têm dado importância aos mais novos. Sempre os olham como potenciais eleitores difíceis de conquistar. Por isso, estes, nunca constituíram grande aposta das elites partidárias. Os jovens são difíceis de agradar e fáceis de perder como eleitores: As políticas de juventude, nas últimas décadas, sempre foram um tapar do sol com a peneira ou tentativa de atirar areia para os olhos, com o engodo de promessas sempre adiadas.

Por onde se tem arrastado a política de educação deste país? De paixão em paixão arrasta-se, mal amada, entre polémicas e incompetências generalizadas.

A educação sexual nunca foi aposta de políticos conservadores e pouco atentos aos problemas da juventude do século XXI.

O mercado de trabalho e as garantias de emprego pouco mais são que contratos a prazo, uns atrás dos outros, recompensados com míseros 500 euros mensais, para alimentar o sonho de constituir família, ter casa própria e uma vida digna.

A casa própria transformou-se no pagamento de uma hipoteca que come o pão da família à medida que os juros sobem. Para muitos o quartinho em casa dos pais é o único aposento com que podem sonhar no final do dia de trabalho.

Os sonhos vão-se atrofiando com o passar dos anos e os políticos, agora, perguntam-se porque estão os jovens de costas viradas para a política enfadonha, mesquinha, sem horizontes, feita para alimentar uma classe que parece distante das populações e que delas se lembra a cada quatro anos.

Os jovens vão despertar para a política quando sentirem que os seus protagonistas estão genuinamente interessados na resolução dos seus problemas e quando virem nessa actividade a capacidade de os resolver. Quando os jovens olharem para os políticos e não verem uma classe distante, esclerosada, preconceituosa, interesseira, incompetente e corrupta e desleixada a acenar com a cenoura numa mão e o boletim de voto na outra, vão olhar para a política com o mesmo interesse com que olham para os glúteos da vizinha(o). Além disso nem toda a vida política passa pelas sedes partidárias como o presidente Cavaco quer fazer parecer, ao chamar os futuros profissionais da política para tratar do assunto.

Da forma como o presidente e os partidos estão a encarar o problema a montanha vai parir um rato e daqui a uns meses já ninguém se lembra do jovens que não querem saber de política nem dos políticos.

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