quinta-feira, maio 15, 2008

CONTRADIÇÕES CATÓLICAS

Ontem trouxe à baila o tema da discrepância inconsequente entre a teoria e a prática dos ministros da igreja. Já agora, vem a talho de foice comentar a atitude religiosa de toda uma sociedade que se diz católica, mas que tende a procurar a Igreja, apenas para participar dos seus ritos festivos, reduzindo o seu significado litúrgico ao mínimo e potenciando ao máximo a sua vertente profana. À semelhança do que se passa por quase todo o ocidente a sociedade portuguesa está cada vez mais secularizada. Os católicos praticantes são uma minoria, mas na hora de afirmar a «filiação» temos mais de 95% de Católicos Apostólicos Romanos. Nada contra. Cada um define-se como lhe aprouver. Acontece que cada vez os portugueses recorrem menos ao casamento para constituirem família, ao religioso ainda menos, muito não foram baptizados, as crianças não frequentam a catequese, nem fazem o crisma, muito menos vão à missa dominical.
A tendência crescente é só entrar num templo católico por curiosidade turística, em casamentos e sobretudo em funerais. Na última hora não há quem dispense a encomenda da alma a quem de direito, como se tal bastasse para abrir as portas do paraíso, aos pecadores, agora que o Papa pôs fim ao purgatório que durante séculos acalentou esperança de fuga ao braseiro infernal e encheu os cofres da ICAR.

Acontece que baptizar os rebentos é uma moda que pegou de estaca, é bem baptizar os filhos, o que dentro desta caminhada para a secularização das sociedades, não se entende lá muito bem. A minha teoria é que os paizinhos não querem ficar com a sorte eterna da alma dos filhos a pesar na consciência, ou será pela oportunidade de mais uma festarola ou pela imprescindível reputação social que tal acontecimento ainda fomenta? Já me estou a alargar nesta conversa, mas não resisti, desculpem-me.
Os pais, acham chique fazer o senhor padre despejar pela testa da inocente criança a água-benta que lhe lavará a alma até ao juízo final e garantirá, seguramente, o convívio com todos os santos pela eternidade fora. No entanto a festa é da família e tem que ser como a família quer. Quem monta o espectáculo e quem o paga é a família. Que jeito o padre querer meter o bedelho? Eles é apenas um simples figurante na encenação geral e a igreja o cenário escolhido.
Escolhem os padrinhos que lhe interessam para o rebento por proximidade afectiva ou por parentesco ou pelo recheio da conta bancária. Os preceitos religiosos, raramente são para ali chamados. Por isso é com revolta que enfrentam a recusa do senhor prior em baptizar o filho só porque o padrinho escolhido vive em pecado com a mulher de quem já tem dois filhos, ou porque a madrinha já pôs o marido a mexer para longe dos lençóis conjugais e dorme lá outro bem mais competente, ou porque os pais se esqueceram de a baptizar (na época não estava na moda) e nunca a enviaram a fazer a comunhão e muito menos o crisma. Também não me admira que a população em geral pense que pode fazer a sua festa sem levar em conta a tradição católica, basta pensar no exemplo de incoerência que vêem nos prelados. Se eles podem dizer uma coisa e fazer outra porque razão o meu filho não pode ter os padrinhos que eu escolhi? Elementar a dedução, não?

Pois é: quem quer tirar aproveito das honrarias que as celebrações religiosas concedem devia viver de acordo com os mandamentos que ela propõe. Mas à boa maneira portuguesa procuramos os benefícios e desprezamos os deveres.
As pessoas entendem a Igreja como porta franca para lhes proporcionar reputação social, e a sua hierarquia percebeu isso e pretende, em conformidade, que ela seja também lugar de devoção. E faz sentido. O que não faz sentido é que a população católica não pense que faz. Será porque se deram conta que a instituição também é uma grande mentira e os seus representante actores numa farsa de grandes proporções? A igreja não está a aplicar aos seus aquilo que exige aos fieis. Será que ainda ninguém deu conta dessa enorme contradição entre a teoria e a prática que percorre a igreja na vertical? Quem se quer respeitado tem que se dar ao respeito: aplica-se aos homens e às instituições, religiosas ou não.

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