
Desespero
Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero.
José Carlos Ary dos Santos
Ary dos Santos começa a desvanecer-se na memória das novas gerações. Um dos grandes poetas de Abril e um dos incontornáveis na história música portuguesa. A década que mediou entre a revolução de 74 e o seu desaparecimento físico (1984) foi de intensa actividade poética que nos entrava em casa em forma de letra de canções interpretadas pelos maiores nomes da canção nacional. Escreveu sucessos atrás de sucessos para a voz de Simone de Oliveira, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo e até a grande Amália cantou poemas seus.
Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero.
José Carlos Ary dos Santos
Ary dos Santos começa a desvanecer-se na memória das novas gerações. Um dos grandes poetas de Abril e um dos incontornáveis na história música portuguesa. A década que mediou entre a revolução de 74 e o seu desaparecimento físico (1984) foi de intensa actividade poética que nos entrava em casa em forma de letra de canções interpretadas pelos maiores nomes da canção nacional. Escreveu sucessos atrás de sucessos para a voz de Simone de Oliveira, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo e até a grande Amália cantou poemas seus.
O You Tube revela alguns desses sons que pouco a pouco vão sendo guardados no baú das recordações de uma geração que ouvia cantar os poemas de Ary dos Santos em discos de vinil.
O poeta comunista e homossexual, era conhecido pela sua linguagem irreverente e ágil. Ary dos Santos considerava ser a poesia a maneira que tinha de falar com o povo porque "ser poeta é escolher as palavras que o povo merece".
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