O Dia dos Namorados, por seu lado, foi frio e seco: um quase deserto. Sabendo que o deserto se instalou por cá comprei-me um roseira anã: pequena, simpática, amorosa, depois de a regar mandei um SMS à minha namorada de quando for velhinho e outra àquele que será um excelente namorado quando se deixar embalar pelo amor. Para o meu comprei um livro: «Homens». Fotografias e depoimentos sobre casais homossexuais que partilham as suas vidas há muitos ou menos anos, contrariando estereótipos, espectativas e preconceitos de uma sociedade que não acredita no amor entre dois homens. Desde que a minha gaja me gravou um CD de música brasileira, daquela de desolar corações que não ouço outra no leitor do carro. Nos últimos meses ando mais sentimentaloide que nunca, é uma realidade. Sinto-me uma praia em finais de Setembro, sabendo que a Primavera ainda vem longe e só o sol de Verão trará a animação de volta ao areal.
sábado, fevereiro 16, 2008
FRAGILIDADES
Ainda não foi este fim-de-semana que dei sequência ao meu saudável plano de usar a bicicleta para ir à cidade ler o jornal e tomar um café. Reparem como esta primeira frase remete para um romantismo bucólico que muito me agrada: faz-me sentir um pequeno burguês que vive no conforto na aldeia, longe da poluição e do stress citadino, rodeado de pomares de laranjeiras povoados por melros, insectos e flores, mas ao mesmo tempo não despreza os prazeres urbanos do homem civilizado e ainda, por cima, com preocupações ambientais. Lindo!
Não pedalei até á cidade por falta de condições. Muitos compromissos e uma invernia anormal que trasladou o Algarve para um lugar algures entre a Escócia e as Ilhas Faroé. Se descontarmos a temperatura, relativamente amena, tudo o resto soava a Mar do Norte fustigado pelo vento.
Fui ver Expiação. Atendendo ao que vos contei não podia dar-me ao luxo de não gostar do que vi. Gostei da dupla perspectiva das cenas iniciais. Como é diferente o ver e o viver? Mais uma vez a denúncia da Insustentável Leveza do Ser. Como somos vulneráveis?! Basta um pequeno acontecimento, aparentemente, sem relevância, para derrubar os alicerces de uma vida e transtorná-la para sempre. Uma vingança, quase infântil, desencadeia acontecimentos que conduzem a um fim trágico. Não fosse aquela sequência de eventos gerados por uma interpretação errada da realidade e as suas vidas teriam sido totalmente outras. Não obrigatoriamente mais felizes, mais longas ou mais proveitosas, mas seriam absolutamente outras.
É esta consciência da insustentável leveza da existência humana, segundo Milan Kundera que me incomoda. Um acontecimento ingénuo, uma actitude irreflectida, uma decisão ainda que bem ponderada, estar no lugar errado no momento certo, um acto voluntário ou involuntário pode ser quanto baste para revolucionar uma existência feliz, derrubar ou condenar a vida a um destino irremediável. Não deixa de ser arrepiante saber que a vida está suspensa por tão pouco.
Atenas - 2005
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