quinta-feira, janeiro 10, 2008

DECISÕES À SÉRIA

Queixava-se o Portugal oposicionista de estar órfão de Primeiro Ministro. Não ligava ao país, não governava, entretido que andava a empurrar a Europa, quase moribunda ladeira a baixo para a reanimar. O homem andava numa roda viva a mandar na UE. Lembram-se que a velha senhora tinha caído numa letargia de morte desde que que os filhos de Astérix e as gentes do país das tulipas se borrifaram para o tratado constitucional, escrevinhado por doutas cabeças que a ninguém escutaram?
O homem depois da lufa-lufa, que foi fazer da sua presidência portuguesa um exemplo de como bem presidir aos vinte e tal (já nem sei quantos são ao todo!) foi gozar umas merecidas férias. Presunçoso por ter mostrado aos outros como é que se faz, tomou em cima da 12 badaladas a sua flute de champanhe e ao engolir, sem se engasgar, as dose passas desejou ardentemente voltar ao seu país e governar outra vez os portugueses como presidiu à Europa.

A oposição estava farta da governação europeia. Não podia criticar, não podia fazer oposição, não podia denegrir a imagem do presidente da Europa. Estou certo de que vontade não lhes faltou mas ficava mal achincalhar a presidência portuguesa. Contiveram-se, não sem sugerir que ele devia abandonar a Europa e começar a governar o país que já abanava por todos os lados. A oposição ansiava a chegada do ano novo, não para começar vida nova, mas para voltar à vida velha.

E o homem chegou. Ao seu estilo já começou a fazer das suas e a dar trabalho à oposição e aos profissionais do comentário que assim vêm reconhecida a sua grande importância na sociedade portuguesa. Sem eles que seria deste Portugal semi-analfabeto que não pesca nada do que se passa na politica nacional, nem é capaz de perceber e revoltar-se contra as ímpias medidas que os governos, sejam eles de que lado forem, tomam todos os dias.
Dizia eu que ele chegou e decidiu que os portugueses não vão ter que passar pela tortura de andar constantemente a mudar de canal televisivo para fugir aos enfadonhos debates sobre o Tratado de Lisboa. Claro que os comentadores e intelectuais ficaram decepcionados. Assim os portugueses vão continuar a olhar para a EU como olham para o boletim do Euromilhões, e eles não vão poder exibir a sua sabedoria e clarividência sobre tão complicadas e interessantes matérias. A sua visibilidade não vai aumentar e os fazedores de opinião e políticos em geral não vão ser tão omnipresentes como seriam se tivessem de explicar o imperceptível tratado.

Hoje ainda fez pior. Pôs ponto final na na novela do novo aeroporto de Lisboa - Claro que a novela aeroporto terá várias sequelas até ficar pronto. Deu o dito por não dito e decidiu-se por Alcochete, contra a expectativa de todas as oposições e críticos em geral que assim pouco mais podem dissertar do que sobre a cambalhota que o homem deu, sem se magoar, note-se, ao abandonar a opção de construir o aeroporto na Ota. As fábricas de esferográficas e de toners perderam, com esta decisão rios de dinheiro ao ficar por vender rios e rios de tinta. Alguns ainda esbracejam porque as terras que já tinham comprado na Ota que agora não valem grande coisa, as câmaras do Oeste estão indignadas e com razão. Outros à falta de melhor exigem a demissão do ministro e falam do deserto e de camelos e em francês (deve ser por causa da anulação do Lisboa/Dakar). A frustração na oposição é quase geral. Horas e horas de tempo de antena criticando o governo foram jogados fora com a opção de Sócrates.

Agora percebemos que a Europa nos roubou o primeiro ministro durante seis meses. Quem o cria a governar o país então aí está ele no seu melhor: arrogante e decidido. A oposição ficou sem palavras. Aquela oposição mais aguerrida ainda se jogou às canelas de Sócrates por ele ter a lata de fazer gato sapato das promessas da campanha eleitoral, mas a oposição que vale calou e ronronou dizendo que já concordava com o Primeiro Ministro antes dele dizer que não referendava coisa nenhuma. E se os portugueses estupidamente votassem não? Lá ficávamos nós sem um tratado com o nome da nossa capital? Mais vale não arriscar, nisso estavam de acordo.
Agora que está decidido que não vamos gastar dinheiro e paciência num referendo a que os portugueses não ligariam a ponta de um corno e que vamos gastar muito dinheiro num aeroporto em Alcochete, que por acaso até é a opção da minha preferência. Sempre fica mais perto de Quelfes para quando for de férias (se continuar a ter dinheiro para ir para esses lados)

O que se segue? Qual a próxima grande decisão do nosso primeiro? Surpreenda-nos Engenheiro Sócrates!
Que tal tomar a decisão de pôr a economia portuguesa a crescer que se veja, apesar das nuvens que se vêem no horizonte?
Que tal tomar as medidas certas para tirar milhares de portugueses do desemprego, apesar do movimento de reconversão da economia portuguesa e ainda que muitos deles não tenham mais que o ensino básico?
Que tal tomar a decisão de garantir ao trabalhadores e pensionistas salários e pensões dignas que lhes permitam chegar ao fim do mês de cabeça levantada, apesar do aumento da inflação e dos juros?
Essas sim eram medidas que mostravam capacidade de governação. As que tomou ao voltar a governar Portugal foram demasiado lógicas e previsíveis. Mansas, diria eu! Nada de extraordinário. As que todos os portugueses aplaudiriam eram as que eu enunciei e não me parece que haja quem as saiba tomar.

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