segunda-feira, janeiro 28, 2008

OS NOVOS DITADORES PORTUGUESES


Alberto João é um dos grandes poetas da política portuguesa. As suas metáforas correm o país regularmente desde os passos perdidos da Assembleia da República até à mais humilde taberna entre dois copos de tinto. Incontornável quando se fala de populismo e de défice democrático ele, não raras vezes, diz do palanque aquilo que o povo comenta nos mercados, homenagem lhe seja feita. Sabe como poucos manipular os eleitores com o discurso manipulador de quem não é mais que um deles. Confesso que a maior parte as vezes o homem me irrita solenemente, mas quando ultrapasso esse estado de alma reconheço-lhe a virtude de ser o único a atirar pedras ao charco da política nacional a incomodar os crocodilos que por lá se aquecem.

Alberto João deixou a cidade dos funchos e veio ao Algarve no passado fim-de-semana. Falou com a eloquência habitual que lhe dá o estatuto semelhante ao que têm os tolos: podem dizer tudo o que lhes passa pela cabeça que ninguém leva a mal, nem se lhes dá importância. Desta vez não foi bem assim. proferiu palavras com bom senso para quem o quis ouvir, dentro do seu partido e fora dele, embora, tal como às outras ninguém as leve a sério, desconfio eu.

Mas não esteve mal acompanhado não. Teve ao seu lado o aprendiz de feiticeiro cá do sul. Fica-lhe a anos-luz, mas há dias em que até tem piada. E acho que teve novamente. Ou foi dica do Alberto ou tirou da sua sagacidade aquela metáfora eloquente que a ASAE é a PIDE dos sabores. Menos original foi comparar o Sócrates a Salazar, mas não fez mal. Compôs bem o ramalhete: um ditador que tem uma polícia repressora para que os portugueses não se lambuzem com os sabores tradicionais da culinária lusa a não ser que sejam confeccionados em laboratórios esterilizados. Mendes Bota está mesmo empenhado na revolta da colher de pau e do galheteiro, há falta de causas maiores!

Mas o homem, tal como o mestre, a seu lado, falava com a voz do povo. Português que se preze teme a ASAE como temia a PIDE noutros tempos. Não há dono de tasca por este país fora que não se sinta perder a força nas pernas e uma enorme vontade de correr para a casa de banho quando alguém menciona o nome dos energúmenos.

Somos um país onde o mais fácil é ser-se preso por ter cão e o vizinho por não ter. Ou não se faz nada e somos o país da bandalheira onde vale tudo menos tirar olhos, ou se se faz é a PIDE que ressuscitou.

Apesar da PIDE, perdão da ASAE, ainda hoje entro em tabernas e tascas que me deixam reservas se devo sentar ou não. Conheci em tempos as fábricas de sabores de dois dos melhores hotéis do Algarve e quase não lhes vi mácula, mas sei que a preocupação com a higiene e segurança alimentar tinham de ser trabalhadas diariamente. Sei espreitando por outras portas que os hábitos, a falta de formação e a ignorância de muitos que fabricam sabores ficam drasticamente longe desses parâmetros de respeito pelos consumidores. Não vale a pena trazer à memória o que as televisões já nos puseram, em tempos, no prato da sopa à hora do jantar?

Como consumidor de sabores não temo esta PIDE. Antes sinto que o seu zelo tem provocado uma melhoria notória na qualidade e condições com que os sabores me chegam ao prato.

Quanto ao novo Salazar palavras para quê? É um artista português! O problema é que não vejo no horizonte nenhum Marcelo Caetano à altura de lhe tomar o lugar quando ele cair da cadeira.

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