sexta-feira, janeiro 25, 2008

AO SABOR DOS SENTIDOS

Tal como ontem, passei a tarde bebendo da morna luz deste Algarve já a antecipar dias mais quentes. Embebedei os olhos longamente no espelho de água quieta que se estende até à barreira arenosa que separa a ria do oceano. Ontem, a ria estava vestida de um azul mais celeste que hoje. Nuvens altas, estendidas ao sol como lençóis esfarrapados, não permitiam vislumbrar o reflexo celeste com o mesmo rigor. Ontem, a ria era reflexo perfeito de céu, junto ao porto de pesca da Fuzeta. De tempos a tempos um barco fazia-se ao mar, ondulando o véu azul onde se poderia ver a face de Deus se ele abrisse uma janela no céu para espreitar do que se ocupam os pobres mortais. Hoje, uma paisagem gémea, junto à marginal de Santa Luzia, mais engelhada pela aragem, enriquecida pelos coloridos reflexos dos barcos ancorados, frente à lota. Logo à noite far-se-ão ao mar para capturar o polvo que confeccionado com arroz dá fama gastronómica à terra.
Cenários de luxo, escolhidos a dedo, para passar umas horas a ler. Finalmente peguei de caras e enfrentei o «Codex 632». Devorei 400 páginas e agora já se tornou impossível parar. Comprei o livro faz um tempão, mas foi por outros ultrapassado nas minhas preferências de leitura. Ficou na prateleira até que decidi que este era o livro da semana, e foi. Amanhã acabo com ele! Agora que me confrontei com os misteriosos segredos das origens de Cristóvão Cólon não há volta a dar. Será verdade que somos compatriotas?
O cenário escolhido para esta leitura era um poderoso engodo para os sentidos. A paisagem marinha de uma paz juvenil, o silêncio do mar embrulhado em sons de orquestra que se escapavam pela janela do carro, estacionado por perto, o sensível cheiro a sal vindo das marismas à tona de água, a doçura da luz solar aquecendo suavemente a pele. E a voragem com que saboreava as palavras cozinhadas por José Rodrigues dos Santos cumpriam a sua missão de me alimentar a mente com o sabor das coisas escondidas, dos mistérios, das intrigas e revelações.
Que melhor uso dar aos cinco sentidos que pô-los todos a trabalhar ao mesmo tempo?

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