Não acredito que quando um não quer uma relação a dois seja viável. O relacionamento afectivo, seja ele de que género for, precisa do empenho activo das duas partes. Tenho dificuldade em compreender como é que alguém, com um pouco de lucidez e amor próprio insiste em manter um namoro ou um casamento com outra que não está interessada nessa relação. O amor é cego, sempre ouvi dizer, mas não fica mal a quem está apaixonado ter um momento de clarividência e perceber que só a sua paixão não é suficiente para levar a bom porto a relação. Claro que se acredita até morrer que o amor pode surgir do nada. O mais lógico é que se não brotou espontaneamente, então, fazê-lo crescer em estufa artificial é escusado. Arrastar o outro para um casamento, sabendo que não está na mesma onda é empurrar ambos para um relacionamento frouxo, sem chama, infiel e potencialmente conflituoso. Esta atitude obstinada de levar a outra parte pela trela do seu amor tem tudo de atitude sado-masoquista. Hipoteca a sua felicidade e escraviza a liberdade do outro a um amor doentio. No final o mais provável é que tudo acabe em sofrimento para os dois e sobretudo para quem se empenhou na relação. Estar amarrado a uma pessoa que não se ama ou amar sem ser correspondido é quanto basta para transformar num inferno a vida de ambos. O amor é cego, mas apostar num amor forçado é comprar a própria infelicidade. E no entanto muitos apaixonados empenham as suas vidas para a conseguir.
Quantas vezes dois apaixonados amando-se cegamente, acabam mais tarde por ver o seu relacionamento tornar-se insuportável, quanto mais um que à partida já está coxo, apenas amparado por uma das partes? Quando um não quer dois não se amam. Esta premissa devia ser clara como a água quando se aposta em alguém.
Há algo de doentio insistir no começo de uma relação que não é uma aposta feita em plena consciência e liberdade por ambos. Assim como não é normal insistir em prolongar uma relação em que uma das partes deixou de apostar. Não estou a falar em desistir à primeira, refiro-me a forçar prolongadamente o que para resultar tem de ser voluntário.
Acontece, não raras vezes, o membro da relação que não a pretende ceder e aceitar dando assim um passo certeiro para uma vida frustrada. Ainda pode ter a atenuante de se julgar ir fazer a felicidade do outro, mas é engano. Não há felicidade que resista a um amor não correspondido. Se a base da relação não for a liberdade dos dois o mais natural é que dentro de pouco tempo o relacionamento se torne insalubre onde as acusações, recriminações e frustrações cimentarão o dia a dia do casal.
A vida é muito curta e, ao que sabemos, única para que alguém abdique de tentar ser feliz enquanto caminha sobre a Terra. Por isso, é incompreensível, para mim, que alguém invista num relacionamento ferido de morte ou que abdique de viver a sua afectividade e sexualidade apenas para agradar aos outros. Pode parecer egoísta, mas na minha opinião parece-me relativamente saudável.
Quem está apaixonado e quem tenta o tudo por tudo em salvar ou em iniciar um relacionamento que tem tudo para dar errado por falta de correspondência está a penas a adiar a sua própria vida. Só alguém amando descontroladamente pode acreditar que pode salvar o seu casamento quando o outro já desistiu dele. Por outro lado é compreensível até certo ponto, mas não é razoável que alguém, no seu perfeito juízo, aceite fazer tal frete.
1 comentário:
lês pensamentos??
quero crer que sim
faço minhas as tuas palavras e acredita que sei do que estou a falar
bjocas
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