A mudança de calendário instiga em nós um instinto quase pavloviano em que repetimos, qual maquinetas infernais, vezes sem conta, o desejo de um «Bom Ano Novo«. Esta expressão é apenas mais um ritual vazio de sentido, como muitas das prendas que oferecemos na noite de Natal. Um comportamento social politicamente correcto, nada mais! Não quero com isto dizer que o desejo de mudança não seja genuíno, em cada ser humano: falta-lhe, é, conteúdo ou acção. A expressão deste desejo empurra para os outros o dever de agir para um mundo melhor no ano que se inicia. Ou, quando muito, é semelhante ao discurso de Miss Mundo que quer o fim da fome no mundo, que acabem as guerras, as doenças e a pobreza... Na realidade nós, pessoalmente, não nos incluímos nesse projecto de mudança porque temos a presunção que já somos ou fazemos tudo o que podemos para que o mundo regresse ao estado de Paraíso original. Teoricamente, talvez até em exame de consciência consideremos que também não somos perfeitos, que podíamos fazer mais para melhorar o mundo em que vivemos, mas na prática acabamos a não mover uma palha para contribuir para um mundo mais civilizado, mais justo e mais respirável.
E se olharmos bem para nós, basta tão pouco para contribuirmos para um mundo melhor: sorrir mais, cumprimentar os vizinhos, apagar uma lâmpada ou fechar uma torneira, deixar a garrafa no vidrão ou a revista no papelão. Tão simples como um piscar de olho ou sorrir a uma criança pode ser a nossa contribuição para um mundo melhor.
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