Acabei de escrever um texto sobre presentes de Natal. Li e reli e pensei: se divulgas o que acabaste de escrever talvez venhas a ser despedido com justa causa. Deixa-te, mas é de tretas e divagações e escreve qualquer coisa menos arriscada. Conta como passaste a tarde de ontem, com os pormenores sórdidos à mistura e tudo que é mais inteligente. Pelo menos aumentava o número de leitores do blogue. Já basta o presente que o patrão te ofereceu neste Natal, não queiras ficar a conhecer mais uma bicha: a do centro de emprego.
Mas não resisto. Vou escrever só o essencial por outras palavras.
O velhinho das barbas, com a devida antecedência, presenteou-nos, a nós muitos dos funcionários da multinacional para que trabalho há 14 (não vou referir o nome para não ser apanhado numa pesquisa rápida do Google) com a novidade de que vamos ser transferidos para outro clube. Isto dito assim até soa bem. Dá a ideia que somos uma equipa de Cristianos Ronaldos que vamos assinar um contrato milionário com o novo clube que quer ganhar a liga dos campeões no próximo ano, tipo Chelsea de José Mourinho há umas épocas atrás. Nada disso. Na realidade vamos ser sacrificados no altar do capitalismo para que a empresa possa no ano que se aproxima atingir os lucros que o ganancioso patrão exige à direcção da filial portuguesa. Os franceses transformaram-nos, de um dia para outro, em mártires da globalização deste inicio de milénio e informaram-nos que a alternativa é um sacrifício ainda maior: mais exactamente o «olho da rua»!
Eu até percebo a urgência do sacrifício que nos é imposto (ou a direcção nos sacrifica a nós ou será ela sacrificada e nós mais tarde pela que a virá substituir), não estou é certo que o sacrifício traga a salvação, não para os sacrificados, claro, mas para o sacrificador. Tenho dificuldade em perceber como é que o facto de pagar a um terceiro para nos pagar exactamente os mesmos salários e as mesmas regalias, as rendas das lojas, a água a energia e o telefone vai operar o milagre de melhorar os resultados da empresa. Pois é, nós vamos continuar a fazer exactamente o mesmo que temos feito até agora. O novo patrão vai receber-nos de braços abertos com os mesmos salários e regalias que temos neste momento. Vai assumir os custos de funcionamento das lojas, incluindo as rendas e ainda se compromete com a sua manutenção e renovação. Óptimo! Para tal vai receber uma comissão sobre a facturação da empresa «mãe» (vou chamá-la assim para não a identificar) e dizem-nos só o que vai mudar é o logótipo no cabeçalho do recibo de ordenado! Fantástico, Mike! Só que isto faz ricochete na minha cabeça e não entra.
Passo a explicar e depois logo me dizem se estou errado, ou estou a ver mal (Se estiver vou logo comprar óculos novos).
Ora bem, a nova empresa vai receber um comissão sobre a facturação para assumir o custo das responsabilidades que referi anteriormente. A nova empresa também tem fins lucrativo, não é nenhuma Santa casa da Misericórdia, logo tem que receber mais do que o que vai gastar com os compromissos que assumiu. Então a «mãe» vai gastar mais do que gasta agora, para realizar o mesmo trabalho. Certo? Resumindo: Onde é que está a redução de custos para poder aumentar os lucros no final do ano? Eu nunca estudei economia, nem gestão de empresas, mas que eu saiba na economia real não há milagres. Para engordar os lucros ou se aumenta a facturação ou se reduzem custos. Disseram-me que esta operação era de redução de custos, só que eu não vejo onde!
Se me tivessem informado que era uma operação para redução de riscos, então sim, fazia-se luz e o Tico e o Teco entendiam-se, assim continuam a guerrear-se e não chegam a entendimento algum. Receio que esta operação não seja tão inócua como nos querem fazer pensar. Agora trespassam-nos para a nova empresa com todos os direitos e regalias acumuladas pelos trabalhadores. Perfeito. Pode acontecer que dentro de um par de anos a nova empresa não se revele lucrativa e cesse actividade por falência ou cessação de actividade com despedimento colectivo e tudo. Conseguia-se assim uma limpeza de quadros, contornando a lei portuguesa. Claro que a empresa «mãe» não tem interesse em cessar actividade e precisará sempre de pessoal experiente no exercício de funções, mas o preço a pagar para nos ter de volta sofreria um saborosa redução para permitir uma mais substancial e proveitosa engorda do bácoro.
Estou tranquilo. Tudo isto é fruto da minha ignorância em gestão de empresas e de uma imaginação que só conta com a ajuda do Tico e do Teco que rivalizam constantemente sem chegarem a uma conclusão com pés e cabeça. E depois um fundo de investimento não teria uma «mente» tão perversa a ponto de estar a agir de má fé, pois não?
Gostaria de ler comentários vossos que me demonstrassem que esta hipótese é apenas uma e que esta operação de passar a força de trabalho para outra empresa faz sentido quando se quer reduzir custos ainda que seja a mesma empresa a pagá-los indirectamente. Aguardo notícias de quem saiba destas coisas e não se dedique só à nobre arte de correr blogues à procura de pornografia gay.
Beijinhos e obrigado.
1 comentário:
Gostava muito de te poder ajudar, mas não sou nada, mesmo nada entendido nestes jogos de capitalistas! A ideia que fico sempre é que, de facto, eles tentam sempre salvar o que é deles e que tentam camuflar a situação, fazendo os outros passar no minímo por tolos (coisa de me irrita profundamente)! Mas com é natal, ou melhor foi natal, ou melhor ainda natal é quando o Homem quer, vamos esperar que tudo dê certo e que vais apenas mudar de empresa e conhecer coleguinhas novos e bem interessantes.... Afinal a esperança é a última a morrer! Certo??
Um abraço e um ano de 2008 esplenderoso!
(P.S: Gosto muito do teu blog)
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