quinta-feira, novembro 01, 2007

O QUE FICA DOS QUE PASSAM

A vida de cada um de nós é retocada constantemente pelas pessoas que a cruzam ao longo dos anos. Algumas dessas pessoas têm o dom de carimbar a sua passagem em nós de forma que se tornam incontornáveis como referências de vida. Esse carimbo é a marca da importância que tiveram para nós. Não me refiro àquelas que chegam e ficam até ao fim: familiares ou amigos. Estou a pensar nos que a vida levou para longe e se perdeu o contacto ou ficaram de tal forma distantes que sabemos apenas que estão bem. Aqueles que a distância e o tempo não foi suficiente para apagar da memória e sobretudo aqueles cujo ferro da sua presença perdura em nós.

Quando olho para trás e penso nas pessoas que me marcaram desta forma recordo amigos que vou de seguida listar, não porque vos digam algo, são apenas nomes para quem lê, mas aqui ficam em jeito de homenagem pela influência que tiveram em mim: o Carlinhos que foi para a Alemanha e por lá ficou, meu primeiro amiguinho de infância, o Tona, amigo dos primeiros anos de adolescente, que me emprestava todos os livros da BD do Walt Disney e consumíamos tardes a jogar ao monopólio, a Eduarda Filipe, a única rapariga por quem me apaixonei e me fez sofrer por amor, aos 15 anos, o Fernando açoriano e grande colega de seminário que quando me dei conta não sabia se o que sentia por ele era amizade ou amor, o Klaus, meu companheiro de vários anos que moldou a minha atitude perante a vida mais do que ninguém entre os que agora estão longe. E fico por aqui. Podia referir mais alguns, mas estes são os que definitivamente passaram e ficaram para sempre.

Outros, quase inconscientemente, estão agora a tecer com detalhes das suas vidas a minha e ainda não podem figurar nesta curta lista. A recordação destes amigos, no dia de hoje, não caiu do céu por acaso: teve uma causa próxima bem real. Alguém que certamente um dia vai pertencer a esta galeria, (desejo eu que só daqui a muitos anos), causou em mim a nostalgia dos amigos que passaram. Há pessoas que sabemos que já deixaram a sua impressão digital, o carimbo como lhe chamei , e ainda que sejam presentes, um dia o destino os levará para longe. Mas há uma memória que não os deixará ir definitivamente. Essa memória encarregar-se-à de os trazer de volta a propósito de tudo e de nada. Serão um doce aroma a saudade, uma conversa de amigos, uma história engraçada, uma lembrança feliz.

Se acontecimentos passageiros ou irreverentes, marcantes ou de tal forma originais deixam registo, no nosso arquivo de recordações, quanto mais alguém que tem o dom de nos surpreender pela nitidez dos seus actos, pelo carácter dos seus pensamentos e elegância dos seus sentimentos, pela beleza da sua presença. Há pessoas, que não se dando conta, vão tatuando lentamente nos outros as suas marcas pessoais e deixando um legado definitivo para quem ficou.

Este texto não é uma despedida. Seria precipitado, embora haja quem pense que ontem foi dia de despedida. Este texto é um reconhecimento da importância de alguém que já deixou marca antes de passar.

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