Escutei esta frase pela manhã, na rádio, quando, debaixo de uma chuva torrencial, me deslocava para o trabalho, quase a passo de caracol, pela A22. Tinha-me dado ao luxo de ficar mais tempo na cama, ouvindo a chuva cair lá fora, aumentando a preguiça de saltar da cama. Finalmente pronto para me fazer à estrada olhei para o quintal das traseiras e deparei-me com um início de inundação. As folhas secas do jardim tinham entupido a sarjeta e podia ter sido muito grave se não me tivesse dado conta. Provavelmente ao chegar a casa no final da tarde teria pelo menos a cozinha inundada.
A frase que comecei por reproduzir é uma recordação aproximada do pensamento do nosso Nobel da literatura e fiquei com ela a ecoar em mim porque a reconheço verdadeira. Logo eu que me defino como um optimista nato, mesmo daqueles que acham que só para a morte não há solução por enquanto (um dia haverá). Fiquei a meditar sobre qual a minha contribuição para transformar o mundo, sendo tão optimista.
Quando era puto, sempre que inventava alguma mais grave, dava comigo a pensar que no momento certo logo me safava da trapalhada. Havia de me lembrar de algo que me livrava do berbicacho em que me tinha metido. Mais valia continuar a brincadeira, depois tudo se resolveria. E a verdade é que nada era tão grave que não tivesse solução. Foi um pouco neste processo de olhar para os problemas com optimismo que fui crescendo e acreditando que na hora certa tudo se resolve. Depois sempre me habituei a ouvir a gente grande dizer, com sabedoria, que o que não tem solução solucionado está. E assim perdi esse espírito pessimista que ajuda a mudar o mundo para melhor, mas ganhei uma forma de ver o mundo que me dá uma tranquilidade e um bem estar de que os pessimistas, certamente, não desfrutam.
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