quinta-feira, agosto 16, 2007

FAZER SÓ POR FAZER...

Com o passar do tempo tenho vindo a assumir uma atitude, que para muitos pode parecer egoísta e desligada, mas que para mim se tem vindo a tornar muito mais saudável e honesta para comigo mesmo. Julgo ser aquilo que se pode chamar um voluntarista, isto é, estou habitualmente disposto a realizar as tarefas e favores que me pedem. Não gosto de pedir favores a ninguém, porque sei que mais cedo ou mais tarde me vão ser cobrados normalmente com juros e se tornam uma obrigação a que moralmente não posso fugir. Se tenho tempo e posso fazer, então, faço sem recorrer a terceiros e assim garantir um pouco mais da minha liberdade futura. Há quem tenha a lata de agir de forma absolutamente oposta e só fazer aquilo que não pode pedir a mais ninguém que o faça e assim garante um pouco mais da sua liberdade presente. Definitivamente implico com quem podendo fazer encontra sempre alguém que faça por si e ainda mais quando esse alguém sou eu.
Assim, não me coíbo de fazer tudo o que tenho de fazer por obrigação e faço com todo o gosto aquilo que me dá prazer. Aquilo que não é uma coisa nem outra evito para preservar o meu bem estar. Fazer o chamado «frete», ou seja, aquilo a que não sou obrigado nem me dá gozo evito cada vez com mais naturalidade.
O resultado deste comportamento tem os seus inconvenientes, mas como já disse deixa-me de bem comigo. Visitar alguém apenas porque fica bem, sair quando não me apetece, ou com quem não me apetece, fazer algo apenas para parecer bem tem pouco a pouco saído dos meus planos de comportamento. Acontece que quem não é visitado, quem não tem a companhia para sair, quem não vê acedido o cumprimento do seu pedido estranha e não gosta da recusa e afasta-se. Pode ser um preço elevado que tenho de pagar, mas o preço de fazer fretes é para mim muito mais pesado.
Hoje o meu irmão acusou-me de há meses não o visitar. É verdade. Não frequento a sua casa desde o ano passado, mas só ele é que tem paciência para as «frescuras» da esposa. Eu já não. Ontem foi uma colega que me acusou de não ter sido nada seu amigo desde que sou seu chefe. A verdade é que eu devia mesmo é ser seu «inimigo» para fazer jus ao seu comportamento egoísta, sobranceiro e sem qualquer consideração pelos seus colegas de trabalho. No outro dia alguém que se estava a aproveitar da minha boa vontade para só fazer aquilo que lhe agradava e deixava o resto para mim levou dois berros e acabou-se a brincadeira. A verdade é que não raras vezes tenho a perfeita noção que as pessoas tem uma tendência nata para se aproveitarem da boa vontade dos outros incluindo a minha quando está à disposição.
Tenho tido um mês de Agosto sobrecarregado e o tempo que tem sobrado para mim, para fazer aquilo que me dá gozo ou fazer simplesmente nada tem escasseado. Enquanto a minha irmã foi de férias mudei-me para casa de minha mãe, pois não ficamos tranquilos se ela estiver sozinha. Foi um transtorno, como podem imaginar. A meio da semana telefonou-me para eu lhe ir ao gabinete de arquitectura buscar o esboço do projecto do ginásio que estamos a projectar abrir em Tavira. Sexta-feira era o meu único dia livre e mesmo assim toda a manhã estava preenchida com uma visita ao Hospital de Faro para fazer exames com a mãe, depois as compras de fim de semana e só a tarde até as 19 horas era verdadeiramente minha. Decidi que as poucas horas que tinha iam ser mesmo minhas e quando ela chegou no Domingo agradeceu-me com maus modos não ter feito o que me havia pedido. Não era obrigação, nem me agradava a ideia, logo não lhe fiz o favor. Logo a ela que é a que mais merecia que o tivesse feito.

2 comentários:

João Baptista disse...

Se a tua colega não distinge trabalho de amizade é melhor realmente dar-lhe 2 berros

Anónimo disse...

UFA, L.A., mas que grande desabafo este!
Que devo eu dizer-lhe?
Sinceramente, não sei muito bem, a não ser que deve continuar a deitar cá para fora... pois os seus leitores serão - admito eu - bons ouvintes.

( Ameijoas? ... )