terça-feira, julho 03, 2007

RECORDAÇÕES DE ADOLESCENTE

Nestes dias o Algarve desdobra-se em festivais e concertos, bailaricos e arraiais de tal forma que só fechados em casa os conseguimos evitar. E quem é que os quer evitar? No Sábado, de improviso, acabei a noite a assistir a um concerto dos Off The Wall. Não vos diz nada? A mim também não até que me disseram que cantavamPink Floyd com grande qualidade. Fez-se um clic, levantei o traseiro desta cadeira e zarpei rumo a Lagoa. O João, meu colega, tinha-me desafiado e quando cheguei, lá estava com os elementos da sua banda« Fifth Element» entusiasmados para assistir à arte de tocar Pink Floyd.
Depois dos Monomonkey o palco reconverteu-se e os Off The Wall começaram precisamente com duas músicas do álbum The Wall. Não esperava que tivessem qualquer efeito especial sobre mim, mas a realidade é que fizeram-me regredir numa espécie de hipnose e revivi momentos dos meus15 anos que já não sabia que tinham ocorrido.
A idade de 15 anos foi seguramente a mais complicada da minha adolescência. O álbum The Wall deve ter por aí uns 50% da responsabilidade pelo meu único chumbo escolar. As faltas às aulas sucediam-se para ficar no cantinho habitual a namorar, a brincar, a jogar, ou só a queimar o tempo. As aulas de matemática eram intragáveis, as de Química um veneno, as de Física uma seca, e por aí fora. Ao vivo a música do fantástico The Wall bateu forte e transportou-me para esse ano de 1979 quando eu tinha uma namorada, faltava às aulas, não parava em casa, nem queria saber de nada. Esse ano foi o último da inocência. Foi nesse ano que conferi que a minha vida ia ser um pouco mais complicada do que a dos outros. Foi quando a Florbela se cansou de fazer de minha namorada que eu percebi definitivamente que não voltaria a ter outra. Enquanto durou ela deu-me a aparência de ser igual aos outros com namorada e tudo. Permitiu enganar-me mais algum tempo. Quando ela se fartou de ter um namorado que não se interessava sequer por beijá-la e partiu é que eu percebi que quem eu queria beijar era o Beto e a namoradinha era apenas um disfarce. O João José não largava a Juvenália, o Beto já fumava, e de vez enquanto umas coisas de cheiro a alecrim, o resto do grupo divertia-se e eu fingia gostar da Florbela.
No final do ano lectivo a turma desfez-se. As raparigas passaram para o 10º os rapazes repetiram o 9º. Eu ainda esperei pelos exames para saber para que lado caía. Na pauta tinha 1 a Matemática, 2 a Físico-Química e 2 a Português. Se conseguisse um 4 no exame numa das disciplinas onde tinha tido 2 passava. Fui fazer os exames derrotado pela incapacidade de estudar. Levei 3 negativas para exame, voltei com 4. No exame de Desenho Técnico nem soube onde devia por o compasso para desenhar uma parábola e inventei de tal maneira que o resultado do exame foi 1 o que deu uma nota final de 2. Repeti com novos colegas, com novos professores e um pouco mais maduro. Não desisti de querer gostar de raparigas, mas percebi que não tinha poder para o conseguir sozinho. Foi aí que comecei a levar Deus muito a sério, ele é que parece que não me levou a mim, mas também não fez mal.
Lembrar-me do grupo de amigos desse ano emocionou-me. Desde esses anos só o João José, de alcunha o «Pink Floyd» se cruza comigo de vez enquanto. Todos os outros não sei o que o futuro lhes reservou. Recordar-me dos acontecimentos desse ano trouxe-me algumas saudades da inocência, do tempo em que se sonha e se acredita que tudo é possível.

1 comentário:

João Baptista disse...

é a vida amigo, é a vida...