domingo, julho 01, 2007

LEMBRAM-SE DO ALLGARVE?


Há poucos meses atrás estalou uma polémica daquelas de encher chouriço ou para fazer dos portugueses simples ruminantes como referi numa entrada recente. Neste momento os cansados do governo aproveitam qualquer migalha para contestar quem manda. Basta uma palavra de interpretação dúbia, basta uma graçola estúpida de algum ministro, basta a suspeita de prepotência, basta uma trapalhada de onde não vem grande mal ao mundo para os adversários do governo verem nisso um banquete farto capaz de o derrubar. Reconheço que ultimamente alguns ministros se têm esmerado em meter os pés pelas mãos e na argola para dar argumentos a quem não tem onde se agarrar para contestar a governação, não que ela seja excelente, não que não seja polémica, autoritária e arrogante, mas a verdade é que parece não haver grande alternativa às reformas que com mais ou menos palermices o governo está a levar a cabo. O senhor PSD gesticula, guincha e rebola-se, mas que faria se fosse primeiro ministro? Eu não percebo nada de política, só sinto o que a maior parte dos portugueses sente: que algo tem de ser feito. Deixar ir o barco como ia, ao sabor da corrente, era carregá-lo nas costas até à catarata.

Vou voltar às polémicas prenhas de nada, de palavras estéreis e de resultados fumegantes. A primeira polémica deste género que me lembro foi a do ALLGARVE. Como marca promocional, enfim, pode ser que alguma universidade venha a estudar o seu impacto na promoção da região e se saberá se foi tão má aposta assim. Fez-se crer ao país que o governo já tinha, por decreto, mudado o nome da província para a venderem como quadradinhos de relva de campos de futebol aos ingleses. Deputados pediram a demissão do ministro, a indignação percorreu os portugueses de lés a lés, nos jornais, nas televisões na rádio, na blogosfera, que adora estas polémicas vindas dos irmãos maiores, fizeram-se entradas a rodos, com comentários que só não chamaram pai ao ministro que queria chamar a este punhado de terra Allgarve.
Serenados os ânimos eis que o programa Allgarve está em marcha e o Algarve ainda é nosso com o nome que lhe deu as suas origens árabes. Afinal Allgarve era apenas um programa de animação cultural e desportiva da região para o Verão que já chegou. O nome que fazia um jogo de palavras com o all inglês que quer dizer tudo e Algarve a região turística que se pretendia promover. E tudo isto foi causa de aberturas de telejornais, de capa de revistas, de inflamados discursos de altos responsáveis do país e da região.

A quem aproveitam polémicas estéreis como esta? À oposição que desgasta a governação fazendo coisas sérias parecerem trapalhices. Aproveita à imprensa escrita que vendem mais alguns exemplares e às rádios e televisões que ocupam minutos de programação com reportagens e entrevistas para encher serviços noticiosos de palermices e futilidades como é tradicional dos nossos canais televisivos.
Não aproveita ao povo em geral quando lhe ocupam a mente com falsas questões e lhe desviam a atenção dos problemas que realmente interessam. Esta polémica durou pelo menos uma semana, a da licenciatura do Sócrates quase um mês, a do deserto outra semana e a do panfleto no centro de saúde está no ar.
Qual o tempo e importância que os mídia dão à desertificação forçada por sucessivos governos dos conselhos da raia? Quanto tempo se dedicaram à proposta de alteração das leis do trabalho que se propõe sacar todos os euros que poder dos nossos bolsos? isto, enquanto o governo diz que quer tornar o país competitivo pela qualidade e inovação, as propostas que estão sobre a mesa é para nos tornar competitivos com os chineses! A justiça que só é notícia quando a sentença do Meritíssimo juiz não lembraria ao Diabo; o ensino que só vem para as primeiras páginas quando o exame tinha um problema que nem Deus nosso senhor conseguiria resolver, e a política de saúde que serve para por velhinhas a chorar em frente às câmaras de televisão.

Só merecemos discutir o futebol, as novelas, as piadas dos ministros e as polémicas patéticas exploradas até ao vómitos por uma oposição fraca, sem propostas, e quantas vezes ridícula que só aumenta o seu descrédito aos olhos dos portugueses.

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