segunda-feira, dezembro 18, 2006

SEM QUEIXUME...

Meu pai foi um homem solitário. Constituiu família, mas aproveitou a necessidade de emigrar para continuar a sua carreira solitária pela vida. Nunca fez intensão de juntar a família durante os 11 anos que viveu em Paris. Ele estava bem sozinho. Apenas a paixão pelo pombos permitiam dizer que raramente estava só. No decorrer dos dias longos junto dos seus atletas de asas sobreveio a doença fatal que em poucos meses o levou para sempre do nosso meio. Em menos de 6 meses um câncro que alastrou pelo abdomen retirou-lhe a capacidade de fazer o que mais gostava: cuidar dos pombos e entreter-se na horta até ao cair da noite. Nos últimos dias já não tinha forças para sair á rua. Faleceu faz hoje 2 anos. Quando olho para trás verifico que ele não se queixava de dores, de mau estar. Creio que morreu acreditando que a sua hora não era chegada. Não se lamentava como se isso fosse uma prova de fraqueza ou fazê-lo antecipasse o fim. Quando se sabe do sofrimento da fase terminal da doença, imagino o sofrimento daquele homem, sem queixume, que tomou um único paliativo para a dor no dia antes de falecer. Quando apliquei o penso de morfina acreditava que ainda viveria muitos dias. Fiquei pasmado quando o telefone tocou no dia seguinte com a notícia fatal.

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