quinta-feira, agosto 24, 2006
E O MAR ALI TÃO PERTO
Escutei na rádio, um dia desta semana, uma estória que me fez pensar muito sobre as nuances da natureza humana. Rezava a estória vivida por alguém que foi instrutor militar numa das ilhas dos Açores que dois dos recrutas a quem dava instrução militar eram oriundos de uma das mais pequenas ilhas do arquipélago: a Ilha das Flores. Os mancebos toda a vida tinham sido pastores. Nunca haviam saído dali. Mas mais espantoso de tudo é que aqueles dois jovens nunca tinham visto o MAR até ao dia em que viajaram para a ilha onde fizeram a recruta militar. Esperaram 18 anos e só não foi mais tarde porque foram obrigados.
Como é possível que alguém que vive numa ilha, de pouco mais de 4 mil habitantes, perdida no meio do oceano nunca tivessem procurado ver o mar? Não era longe, bastava querer. E eles não tiveram curiosidade de ver como era o mar. É quase como andar à noite e não olhar o céu, é estar no cimo da montanha e não olhar a paisagem ao fundo, é mergulhar num recife de coral e não abrir os olhos.
Vivi quase toda a minha vida em frente ao mar, junto à Ria Formosa. Dos dois anos que habitei no Monte Abraão em Queluz, sempre que podia vinha a Lisboa ver o Tejo, enorme, quase mar, ou descia a Cascais para sentir o cheiro do oceano salgado. Mais tarde, tive que ir viver para o Alentejo, para Beja: um oceano de cearas verdes, de terra seca, de flores silvestres a perder de vista, mas nem uma gota de água salgada. Sentia saudades do mar e quase todos os fins-de-semana íamos à magnífica costa alentejana entre Porto Covo e a Zambujeira ou vínhamos ao Algarve.
Como é possível que alguém viva a poucos quilómetros do imenso oceano e nunca tenha tido a curiosidade de saber como era?
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2 comentários:
Eu acho que as coisas que tão por perto nunca chamam tanta atenção quanto as coisas que tão longe, né? Talvez tenha sido esse o caso aí.
Yo conozco a una pareja que viviendo a 20 km. del mar cantabrico, en la costa vasca, vieron por primera vez el mar con más de cuarenta años cumplidos. Nunca habían sentido curiosidad por ver qué había más allá de su caserío y del valle en que vivían, hasta que tuvieron que llevar a sus hijas a la playa.
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