domingo, dezembro 06, 2009

NUESTROS SILENCIOS


Lisboa é o ponto de partida do percurso que dez gigantes silenciosos realizarão por diversas capitais europeias de Espanha, Bélgica, Alemanha, Itália, Reino Unido, França. Uma procissão do silêncio proveniente do México será apresentada em Novembro e Dezembro de 2009, na Praça Marquês de Pombal.
Trata-se de um conjunto de 10 esculturas de mais de três metros de altura, realizadas em bronze pelo artista mexicano Rivelino. A mostra inclui uma peça em aço denominada cubo táctil, de dois metros de lado, que comporta no seu interior quatro esculturas, que poderão ser igualmente apreciadas através do tacto.
A instalação certamente não passará despercebida. O silêncio vai dar que falar.


Data: 2009-11-23 Hora:
Local: Marquês de Pombal

segunda-feira, setembro 07, 2009


UM ANO MUITO «SECO»

Depois de mais de um ano, em que vim aqui quase de visita, voltei hoje com vontade de afirmar que apesar de tudo resisto. Tenho resistido ao ano mais «seco» que me lembro ter vivido. No plano profissional, que está na base de todos estes males, as mudanças sofridas na entidade patronal foram um maremoto, com alerta antecipado, que se abateu sobre as vidas daqueles que tem como entidade patronal um tal «Euroagente». A crise económica que se abateu sobre o mundo de forma global e sobre o turismo algarvio em particular só veio enterrar um pouco mais o que eram as nossas perspectivas profissionais. Passámos de pessoas a números, de um activo valioso a um peso no orçamento e de pessoas a «cabeças», contados como se conta o gado nas quintas australianas. Deixamos de ser uma mais valia para a empresa capaz de acrescentar valor para ser apenas empregados melhor pagos do que seria necessário. Por consequência: mal-tratados com a vaga esperança que algum apresentasse a carta de despedimento e pudesse ser substituído por outro mais barato ou mesmo não substituído. Tratados por e-mail como bácoros ignorantes e cobardes capazes de ficarem calados com medo de perderem os empregos. Tentativas de chantagem para não exigirmos os nossos direitos e ameaçados com a falência da empresa! Enfim foi um ano em que me arrependi de ter assinado um tal contrato, em que pensei em desistir e me fez começar a pensar em alternativas.
Desde o fim-de-semana prolongado em Torremolinos em Maio os meus dias quase se resumiram a trabalhar e dormir para poder voltar a trabalhar. Só na sexta-feira passada foi pela segunda vez, este ano à praia, fui uma vez ao cinema, parei de ler, quase não sai á noite, não assisti a um concerto. Não. Mentira. Assisti a um concerto de música clássica no novo auditório municipal de Olhão e a um espectáculo de flamengo no mesmo local.

Imaginei-me a procurar novo emprego, como seria ficar desempregado, sonhei como seria ganhar o Euromilhões... Por fim fui mais pragmático percebi que podia com algum esforço ganhar dinheiro. A casa da minha mãe que não foi possível vendar, em resultado da crise imobiliária, podia ser uma fonte de rendimento. Algum investimento inicial na reabilitação da casa e aí está ela alugada em permanência no primeiro piso e para o turismo o rés-do-chão. Uma página num sitio da especialidade na internet: CASA DO PINHEIRO e o negócio foi muito mais rentável do que pude imaginar inicialmente. Claro que deu muito trabalho e consumiu muitas horas dos meus fins-de-semana, mas valeu a pena. No próximo ano o investimento vai ser reforçado. Quem quiser uma casa de férias já sabe...

Claro que o resto do tempo livre que me restou foi para ajudar o negócio do Shwasy que este ano não esteve em crise, muito pelo contrário: a crise trouxe-lhe mais clientes que o habitual. Só depois de tudo isto fui dormir!

Ainda tive tempo para pegar no meu dinheiro que o Millenium BCP remunerava a 10 €, mais ou menos por mês e investi-los na bolsa de valores de Lisboa e até agora não me arrependi. O BCP que vá ganhar dinheiro com o suor de outros!

Continuo a pensar seriamente em mandar o meu patrão alugar carros para a ilha da Culatra. Lá mais para o próximo Verão... Dizem que é um investimento rentável.

segunda-feira, julho 20, 2009

domingo, julho 05, 2009

ALBERTO SERRA (1939 - 2009)

Alberto Serra era um reformado italiano que em tempos viveu uma vida muito confortável em terras germânicas como empresário de restauração. Ganhou muito dinheiro e gastou muito dinheiro. Foi um bon vivant. Nos últimos anos os negócios não lhe correram tão bem e chegou aos dias de reformado dependente de uma reforma que não lhe permitia grandes voos.
Não sei como, mas escolheu um cantinho no Algarve para viver os seus derradeiros anos de vida. Sugestão de amigos, o clima, o custo de vida levaram-no a escolher Santa Luzia em vez da sua Itália de infância, da Alemanha onde ganhou a vida, ou da França onde se aventurou em negócios. Aqui podia viver com dignidade a reforma que recebia da segurança social alemã.
Tinha uma filha que o adorava, uma ex-mulher e muitas recordações dos tempos em que ganhou e gastou muito dinheiro. No seu francês misturado com cada vez mais palavras portuguesas aconselhava que não se devia gastar tudo o que se ganhava. Se tivesse deixado um pouco para o final da sua vida teria sido bem melhor. De qualquer forma parecia agradecido aos deuses por ter vindo passar os seus últimos dias aqui. Encontrou uma «família» como gostava de dizer da família que lhe alugou mais do que uma casa a bom preço para morar: pelo mesmo preço encontrou gente que se preocupava com a sua saúde, com a sua alimentação, com a sua solidão. mas não era só a esta família que reconhecia por sua «família» eram também os amigos que o convidavam para a mesa quando vinha jantar à vila, que lhe pagavam um bagaço, que lhe escutavam as estórias de vida. Dizia que tinha escolhido o lugar certo para viver, pois sem ter ninguém, sabia que teria sempre alguém disponível para ir à farmácia ou ao médico se assim o desejasse. O problema é que ele não gostava muito de frequentar esses lugares.
Nos últimos meses não gozava de grande saúde. Todos os dias ao sair de casa a vizinha lhe perguntava: «Alberto estás morto ou estás vivo?» esperando sempre a resposta que nunca falhou. Não conseguiu deixar de fumar nem de beber quando os médicos lhe exigiram que o fizesse. Não estava bem nos tempos mais recentes, mas não queria médicos por perto. «O Virgílio logo me traz os remédios da farmácia». Confiava como se o Shwasy fosse o seu médico pessoal.
Ontem, à pergunta habitual respondeu que estava vivo, que estava um pouquito melhor, e que precisava de água. Já não tinha água, que lhe deixassem um garrafão à porta que já ia buscar. Mas não chegou a ir buscar o garrafão de água que ficou na soleira da porta, ao sol, até que estranhando o facto a avó começou a chamar pelo Alberto e ele não respondeu.
Alberto Serra não voltará a responder que está vivo. Aquele italiano com ar bonacheirão de quem viveu e de muito se arrependeu, acolhido por todos, portugueses e estrangeiros, como um amigo deixou um puzzle gigante montado onde faltou uma peça que nunca descobriu onde foi parar, uma linha de comboio eléctrico em miniatura que montava e desmontava havia meses. Símbolos da sua solidão, mas ao mesmo tempo da sua capacidade de não desistir.
O Alberto tinha apenas 70 anos de vida e faleceu ontem sem demoras. Aqueles a que ele chamava «família» lamentam a perda e agradecem o reconhecimento. Família há só uma, mas felizes aqueles que conseguem adoptar outra e ainda mais felizes aqueles que foram dignos de serem adoptados.
Obrigado Alberto...

sábado, abril 25, 2009

sábado, abril 11, 2009

... E AO TERCEIRO DIA...


UM DIA SEM GRAÇA!

Neste preciso momento era meu desejo estar no Teatro das Figuras a assistir à monumental ópera de Verdi: Aída, mas não estou. Estou em casa, quase deprimido, sem ganas de nada fazer. Já liguei e desliguei a televisão. Já abri e fechei o livro que estou a ler. Já abri o frigorífico e fechei sem que nada do seu conteúdo me abrisse o apetite e agora entrei no meu blogue abandonado há meses. Talvez daqui a pouco apague tudo o que estou a escrever e nem venha a chegar ao vosso conhecimento este estúpido estado de alma em que me encontro.

Já que não consegui bilhetes para a ópera devia ter ido ajudar o Shwasy no seu trabalho. Sempre me ocupava a fazer algo de útil e não me deixava mergulhar nesta letargia pré-dia de trabalho. Pela primeira vez em muitos anos vou trabalhar no Domingo de Páscoa. Ainda tenho trabalho, ainda tenho o mesmo namorado, ainda vivo na mesma casa. Há um ano atrás, mais coisa menos coisa, escrevi aqui que 2008 seria um ano de mudanças e não me enganei. Muita coisa mudou embora pareça que tudo está na mesma. Talvez, sempre este talvez, de incerteza, de pouca vontade, que me persegue nos últimos tempos... Dizia eu que talvez vos conte tudo o que mudou, e foi muito, nos últimos doze meses da minha vida. Hoje escrever o que se passou durante os últimos tempos apenas contribuiria para me deixar mais depressivo e eu não gosto que os outros percebam que não estou nos meus melhores dias. Sou um optimista mesmo quando o céu ameaça desabar sobre a minha cabeça. Vendo bem tenho a leve sensação que é isso que me vai acontecer mais cedo ou mais tarde.


Não faz parte do meu modo de encarar os problemas deixar-me engolir por eles por isso depois de almoçar com o que resta da família, tentei sentar-me numa esplanada ao sol, mas o sol não saiu à rua para me fazer companhia, apenas um vento norte desconfortável. Vim para casa e quando o Shwasy disse que se eu não o quisesse ir ajudar que não fazia falta, fiquei em casa. Liguei a televisão e vi o Benfica dizer adeus ao campeonato, mas nem isso me alegrou, porque a derrota dos lampiões foi injusta. Então li o capítulo 8 do maior livro que já li até hoje, depois da Bíblia e tentei animar-me com a experiências vividas por Gregory David Roberts na Índia depois de ter fugido de uma prisão de alta segurança na Austrália. Shantaram é um grande livro em todos os aspectos: 889 páginas que nos passeiam pelos bairros de lata de Bombaim, pelo sub-mundo do crime da grande metrópole indiana e pelo coração e mente de um foragido da lei a quem aquela experiência de vida o reconcilia com o mundo e consigo. Quando acabar de ler o livro estou certo que terei uma vontade enorme de visitar o país de Shantaram.

segunda-feira, março 02, 2009

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

A ORIGEM DA ESTUPIDEZ!

« A origem do mundo»

Cinco exemplares de um livro sobre pintura foram apreendidos no domingo, na Feira do Livro em Saldo e Últimas Edições, em Braga, por a Polícia de Segurança Pública (PSP) considerar que o quadro reproduzido na capa «é pornográfico».

Somos um país onde estão sempre a acontecer coisas caricatas e divertidas e ainda dizem que somos o povo mais carrancudo da Europa. Se somos não devíamos, pois cenas de rua de largar a rir à gargalhada é o que não falta a cada esquina nas nossas cidades.
Desta vez foi um exemplar cidadão bracarense que receou que o Show erótico do Porto, realizado recentemente, estivesse a extravasar pornografia para a sua cidade. Assim como perfeito polícia da moral e dos bons costumes foi apresentar queixa à polícia (PSP) que fazendo jus à sua pouca cultura geral e largas à prepotência habitual com tendência para escorregadelas de abuso de poder apreendeu os cinco livros que expunham uma reprodução da pintura de Gustave Courbet: «A origem do mundo».

E dizem que os portugueses não têm razões para rir!?

sábado, janeiro 03, 2009

UM TAREFEIRO ESPECIAL

Durante os anos em que fui o responsável pelos balcões da empresa em que trabalho no Aeroporto de Faro o trabalho distribuía-se ao longo da semana de forma muito irregular. As Quartas, Sábados e Domingos chegavam a ter o triplo da actividade dos restantes dias da semana. Para fazer face a este acréscimo de actividade tínhamos que recorrer a tarefeiros que desempenhavam tarefas pouco especializadas e contribuíam para que nos fosse humanamente possível servir os clientes com a qualidade que nos exigiam.
Na época a taxa de desemprego não era o flagelo actual e não era fácil encontrar alguém disponível para desempenhar estas funções esporádicas. A minha «salvação» eram os estudantes universitários. Os estudantes vindos dos PALOP`s constituíam um contingente de fácil recrutamento. Longe das famílias e da pátria estavam disponíveis, sobretudo, aos fins-de-semana. Por outro lado, lutavam com dificuldades financeiras para se sustentarem e sustentarem os seus estudos. Alguns não recebiam durante meses as pequenas bolsas de estudo que os seus governos lhes garantia para poderem estudar em Portugal. Outros por mau aproveitamento ou dificuldades de adaptação tinham deixado de ser bolseiros e outros gastavam muito mais do que as magras bolsas de estudo lhes permitiam. Assim eu tinha uma legião de jovens africanos candidatos a ganhar 5000$00 diários pelo trabalho realizado. Verificavam os carros, atestavam os depósitos de combustível, transportavam os clientes de e para o aeroporto entre outros trabalhos menores.
Como disse eram várias as motivações para aceitarem aquele trabalho à tarefa que só tinha hora para começar, mas não para terminar. Desde dinheiro para alimentação, para livros, para transporte até às motivações mais boémias de noitadas e copos na rua do crime, todos tinham uma forte razão para quererem o trabalho.
Eu decidia quantos necessitava conforme a actividade, pegava no telefone e contratava por ordem de preferência os mais cumpridores e confiáveis. Alguns, não raras vezes atrasavam-se ou faltavam porque a noite anterior tinha sido regada ou prolongada demais. E mesmo os que se apresentavam para trabalhar por vezes vinham num estado que mais valia não terem vindo.
No topo da minha lista estava um cabo-verdiano sorridente, simpático e certinho como o Big Ben. Não recordo uma única vez de me ter deixado mal. Por contraste recordo sempre com um abanar de cabeça um são-tomense, Adriano de seu nome, folgazão e matreiro que me tirava do sério pela capacidade que tinha de falhar todos os compromissos que assumia, mesmo quando vinha trabalhar.
Ontem encontrei o Alcides em Tavira. É lá que trabalha este eis funcionário daqueles tempos. De nacionalidade cabo-verdiana terminou o seu curso, estagiou na CGD e por lá continua até hoje. Entretanto casou. Tem um filho e Cabo Verde? Só de férias! Já há alguns anos que não o via, embora habitemos na mesma cidade, aliás agora é vizinho da minha mãe que se mudou recentemente para Olhão.
O sorriso do Alcides continua igual e o seu olhar sereno continua a inspirar confiança. Na breve conversa de rua confessou-me que viveu naqueles anos os tempos mais difíceis da sua vida. Para conseguir acabar o curso com bom aproveitamento e sobreviver sozinho em Portugal tinha feito das tripas coração! E depois disse-me algo que nunca esperei ouvir e desconhecia completamente: - Chefe (ainda me trata por chefe), você foi crucial na minha vida. Sem a sua ajuda e aquele trabalho eu não teria conseguido acabar o curso. Sózinho, num país estranho, sem dinheiro: estive à beira de desistir. Sem você e aquele trabalho eu não seria quem sou hoje. Quem sabe o que teria feito sem aquele dinheiro?
Lembro de ter feito uma espécie de acordo um com ele: Não me falhes e serás sempre o primeiro da minha lista de tarefeiros. Ele nunca falhou e era sempre o primeiro a ser chamado. Se precisasse de apenas um tarefeiro era ele que vinha.
Foi bom ficar a saber.